Desigualdades e Migrações
2015/05/05 17:51
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Quando pensamos num modelo de sociedade próximo do ideal
de humanidade e dignidade, ocorrem-nos sempre os exemplos, que as estatísticas
confirmam, dos Países Escandinavos, moldados por fortes sociais-democracias,
com modelos bem-sucedidos de desenvolvimento sustentável.
A vida profissional e política já me tinha proporcionado
várias vezes estar na Dinamarca e na Finlândia. Tive recentemente a
oportunidade de completar o "puzzle", visitando a Noruega e a Suécia.
Os países escandinavos continuam a ser um exemplo único
de igualdade de acesso às oportunidades, organização, tolerância e não
corrupção. A sua tolerância tornou-os destino apetecido para muitos deserdados
da globalização que ali procuram refúgio e oportunidades. Este movimento está a
mudar a paisagem política e social desses Países de referência.
Hoje, as sociedades nórdicas estão profundamente
divididas em relação à forma como devem receber e incluir os milhares de
migrantes vindos de Países pobres que a elas afluem. Tornaram-se em
consequência sociedades menos consensuais e mais crispadas. A extrema-direita
xenófoba ganhou peso político e os sociais-democratas deixaram de ser os
líderes das coligações de governo, embora na generalidade ainda as integrem.
Nas cidades, que visitei pude sentir crescentes sinais de
exclusão. Ruas e bairros étnicos, pedintes e sem tecto nas esquinas, sinais de
profunda desigualdade, não entre os nativos, mas entre os que chegando, vivem
nas margens da sociedade.
A desigualdade e a pobreza são uma doença social que a
globalização se encarrega de disseminar. A tolerância e a inclusão são a
resposta necessária a esse fenómeno, mas se não combatermos as desigualdades na
origem, dificilmente as conseguiremos combater com sucesso nas sociedades de
acolhimento.
Vista da Escandinávia esta questão ainda é mais premente.
Se estas sociedades não conseguirem ser inclusivas nenhuma outra conseguirá. O
risco é que deixando de ser inclusivas para quem chega, deixem também de o ser
para todos os outros.
O alerta é claro. Temos que combater as desigualdades
como um desafio global. Atacar os movimentos obscurantistas e ajudar a
reconstruir as instituições nos Estados falhados.
Fazer das migrações não um acto de desespero, mas um
processo de mútua vontade. Não é um desafio fácil, mas é para já o maior
desafio social que o mundo enfrenta.
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