Agricultura e Futuro
2017/11/18 14:31
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A Política Agrícola Comum (PAC) tem estado no cerne do desenvolvimento do projeto europeu. Hoje, a agricultura e a agro-indústria representam 6% da riqueza criada na União Europeia e garantem o emprego a 44 milhões de pessoas, repartindo-se de forma mais ou menos equivalente entre a produção e a transformação.
O sector agrícola europeu tem-se modernizado etornado mais competitivo, mas para o conseguir, destruiu milhões de empregos, devido à mecanização cada vez maior das tarefas e à deslocalização deatividades produtivas para outras regiões do globo.
Numa lógica puramente teórica, e tendo sempre em conta a necessidade de assegurar o abastecimento alimentar das populações por razões de segurança, a especialização produtiva de determinadas zonas do globo pode contribuir para que todos acedam a mais bens e serviços a melhores preços. No caso da agricultura e da agroindústria, no entanto, a questão da sustentabilidade do território tem que ser levada em conta, como o exemplo da desertificação progressiva do interior em Portugal bem demonstra.
Na mais recente reforma da PAC, na qual o então Eurodeputado e atual Ministro da AgriculturaCapoulas Santos teve um papel determinante e muitomeritório, o desenvolvimento rural ganhou uma relevância acrescida. É preciso ir agora ainda mais longe se quisermos combater o abandono dos territórios e garantir um povoamento com comunidades atrativas e viáveis.
Esta abordagem não é fácil. Implica uma conjugação de políticas de proximidade e grande diferenciação, com a celebração de acordos comerciais que permitam que a alimentação esteja acessível a preços comportáveis mesmo para as pessoas com rendimentos mais reduzidos, mas tendo em conta a segurança alimentar e a garantia de práticas compatíveis com o combate às alterações climáticas.
Neste quadro vai fazer cada vez mais sentido, na União Europeia, produzir localmente produtos de consumo direto e apostar em clusters agroindustriais em torno de produtos diferenciados e de nichos de mercado, capazes de competir à escala global, de forma a fixar mais gente nos territórios rurais e reduzir as emissões, ajudando a cumprir o acordo de Paris.
Estou certo que esta visão será tida em conta nas políticas que em Portugal estão a ser desenhadas para combater a desertificação do interior. Temos excelentes exemplos em sectores e produtos de excelência em todo o País e no Alentejo em particular, em articulação com o turismo de qualidade. O desafio é multiplicar esses exemplos até tornar as nossas comunidades rurais espaços com massa crítica para atraírem mais gente, mais investimento e transformar a qualidade de vida para alguns, que hoje significa viver no interior, numa opção de vida aprazível para todos os que aí vivem ou desejam viver.
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