O PS, as primárias e o País (Texto publicado no Expresso de 13/6/2014
2014/06/13 12:45
| Malha Larga
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O tempo é um dos principais
ingredientes da dinâmica política. Sobretudo em democracia os ciclos políticos
tendem a ser fundamentais nas lógicas de alternância e de alternativa. O
Partido Socialista estava a viver até 27 de Maio um ciclo político natural. Um
Secretário-geral eleito e reconfirmado em Congresso, conduziu o Partido à
vitória nas eleições autárquicas e nas eleições europeias e preparava-se para
fechar o ciclo, disputando a liderança do Governo.
Os ciclos políticos, como
praticamente tudo em política, são passíveis de alteração e disruptura. A
partir da análise dos resultados das eleições europeias, reconhecidos
militantes socialistas colocaram nos órgãos de Partido e fora deles a questão
de saber se a incapacidade do PS em captar à abstenção uma significativa parte
dos descontentes com a governação, obtendo um resultado abaixo das expetativas,
deveria ser motivo para forçar a quebra dum ciclo político natural de
liderança, pela primeira vez na história do PS.
Do meu ponto de vista, os
fatos alegados são importantes, merecem reflexão, mas não são suficientes para
interromper um ciclo natural de liderança. Por isso votarei no Secretário-geral
em exercício nas primárias de 28 de Setembro.
Dito isto, imposta olhar em
frente. A arte da política também é transformar dificuldades em oportunidades.
Se o PS tem um problema de mobilização dos eleitores então está chegado o
momento de contribuir para o resolver e as eleições primárias podem dar um
forte impulso no reforço da ligação do partido à sociedade.
Para isso as candidaturas têm
que respeitar a grandeza e a importância do PS na sociedade portuguesa. Devem
competir por ideias e por propostas e não devem ceder a nenhuma tentação de
menosprezar a história do partido ou de lavar “roupa suja” enquanto as pessoas
esperam ver soluções concretas para os seus problemas.
O desafio à liderança do PS
escancarou o partido perante a sociedade. Se as pessoas gostarem do que lhe for
mostrado podemos estar perante a abertura de um novo ciclo de reforço da
participação política e da democracia em Portugal.
Neste contexto a
responsabilidade dos potenciais candidatos a Primeiro-Ministro é enorme, e
qualquer eventual excesso de um dos lados não justifica a resposta nos mesmos
termos da outra parte.
Olho por olho, dente por dente
será neste caso uma tática suicida em que todos perderão, dentro e fora do PS.
Com naturalidade, quem souber manter uma
postura de Estado e combater pela elevação das propostas é quem levará a melhor
e retomará o caminho da disputa pela governação do País, espero que com um
exército ainda mais forte e motivado.
O território da vingança e do ressabiamento é
pura areia movediça. Quem lá entrar suicida-se politicamente e com isso
enfraquece um dos principais esteios da democracia portuguesa. Comigo ninguém
contará para isso.
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