Anorexia Institucional
2013/04/07 10:51
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Se há afirmação que me faz “pele de galinha” é aquela que refere que a consolidação das contas públicas em Portugal faz de nós um modelo à escala europeia. Modelo de quê e para quê? Modelo de quem e para quem?
Quando oiço estas afirmações, provindas de “gurus” nacionais e burocratas internacionais, lembro-me sempre doutro tipo de modelos. Das lindas, elegantes mas magríssimas mulheres associadas à moda e à promoção dos novos produtos, estilos e colecções.
Felizmente a concepção evoluiu na última década, mas foram várias as histórias de jovens modelos que para conquistarem as “passerelles” se tornaram anorécticas e algumas delas perderam a própria vida. Por detrás do que soubemos e se tornou mediático, milhares de outras jovens seguiram as pisadas das suas referências e correram riscos semelhantes.
Penso, e não estou a dramatizar, que com a insistência na receita da austeridade o nosso País e a nossa economia correm risco de anorexia. De passar um limite a partir do qual a recuperação só será possível com cuidados intensivos. De atingirmos uma debilidade tal que já nem consigamos reagir a um potencial retorno de maior prosperidade.
Tornou-se agora moda dizer que a nossa Constituição está para além das nossas possibilidades. Além de ser uma afirmação profundamente anti-democrática, ignora o papel de ponderação do bom senso coletivo e das regras de comum convivência que decorrem da elaboração de um texto fundamental, blindado por uma maioria de 2/3 de suporte político.
Tal como existem regras de convivência comum em todos os domínios da sociedade, também na política e na sociedade há limites que só podem ser passados se se formar um enorme consenso social traduzido em procedimentos serenos e evitando os populismos de massas.
O povo é a fonte primeira da legitimidade. Quem renega a constituição renega o povo que lhe dá suporte. A anorexia política deste governo e desta maioria são preocupantes. Não nos deixemos contaminar.
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