Sob Ataque
O projeto europeu, que na sua plenitude é uma ideia genial e uma realidade valiosa, embebido pelos genes da paz, da liberdade e da democracia, pode estar a começar a tornar-se uma ideia do passado, vítima dos seus próprios fundamentos, que dificultam a competição com potências musculadas e que não partilham os valores humanistas que nos definem e dos ataques concertados que contra ele têm sido feitos, de fora e de dentro da parceria. Há boas razões para impedirmos que isso aconteça.
Nas últimas semanas, ao mesmo tempo que a União Europeia se posicionou na primeira linha da defesa dos direitos humanos nos vários conflitos que enxameiam o globo e assumiu compromissos avançados e progressistas no processo de descarbonização e combate às alterações climáticas na Conferência do Clima, assistimos a um dos mais brutais ataques concertados contra o projeto europeu dos últimos anos, usando a fragilidade da União na sua dependência energética de outras potências e em particular da Rússia e da dependência tecnológica nalguns dos componentes fundamentais das novas cadeias de valor industriais.
Ao mesmo tempo as campanhas de desinformação e provocação que cavalgam as redes sociais e se propagam como rumores e noticias falsas atingiram um volume nunca visto, ao mesmo tempo que na fronteira da Polónia, um conúbio que tem como rosto visível o regime ditatorial da Bielorrússia, mas que conta com muitos apoios explícitos ou implícitos noutras potências da região, não hesitou em usar as pessoas e o seu desejo de viver na União como armas de arremesso contra o projeto europeu. Estamos sob ataque.
No dia 12 de novembro participei na cerimónia de entrega do Prémio Mário Soares, uma iniciativa da Delegação do Partido Socialista no Parlamento Europeu, a 19 jovens de cinco escolas do 3ª Ciclo do Continente e das Ilhas. De mais de sessenta escolas chegaram trabalhos sobre cidadania e desenvolvimento no contexto dos valores europeus, evidenciando um sentido de pertença ao projeto europeu que é fundamental para que tenhamos todos, e em particular os mais jovens, a força, a motivação e o sentimento necessário para defender a paz, a liberdade e a democracia que o projeto europeu nos proporciona.
Nas breves palavras que partilhei na ocasião apelei a um envolvimento crítico de todos nas escolhas que vão definir o nosso futuro comum. O projeto europeu tem muitas fragilidades e em muitos domínios precisa de reformas profundas, mas se tantas pessoas de outros territórios se querem juntar a nós e se tantos déspotas do mundo nos querem destruir, é porque certamente somos uma parceria que vale a pena defender.