Sociedade das Desigualdades
2014/05/06 08:38
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Quando era jovem o ano 2000 e o século XXI exerciam sobre mim um enorme
fascínio. Desejava ardentemente lá chegar com vida para ver com os meus
próprios olhos como seria o mundo que perante os meus olhos e os meus
pensamentos era então o futuro.
Os enormes progressos tecnológicos e as evoluções nos equilíbrios
políticos, designadamente a queda do muro de Berlim foram tornando ainda mais
incerto e ao mesmo tempo desafiante imaginar o que seria o planeta e como se
organizaria no novo milénio.
Eis-me agora em pleno século XXI. O mundo mudou muito. Algumas
tecnologias como a internet e as comunicações tornaram-se tão acessíveis e
banais que quase não nos apercebemos no quotidiano como elas fazem parte plena
da nossa vida.
À medida que vamos dispondo de
novas ferramentas vamos adquirindo - as para a normalidade e damos por nós
muitas vezes mais fascinados com a simplicidade do passado do que com a
extraordinária diversidade da modernidade.
Sim, é verdade que o mundo moderno nos dá tudo e tudo nos tira. Nunca
tivemos tantos instrumentos para nos facilitarem a vida e nunca tivemos uma
sensação tão clara de efémero, velocidade e falta de tempo.
Descrever tudo o que o século XXI nos trouxe de extraordinário seria um
longo texto. Também as desilusões ocupariam muito espaço. Estou vivo, cheio de
energia e de vontade de ser parte ativa do futuro. Só por isso agradeço ao
criador cada manhã que desperto para mais um dia de fruição do dom da vida.
Mas há uma realidade que me preocupa e que não esperava de todo. A
grande maioria dos analistas entendia que a sociedade do futuro aproximaria as
pessoas, e reduziria o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, já que o seu
recurso fundamental, a informação, seria um recurso abundante por natureza e as
novas tecnologias permitiriam disseminar mais facilmente o conhecimento.
Por muitas e variadas razões não é isso que tem sucedido. A diferença
entre a circulação instantânea dos capitais e a circulação bem mais difícil das
pessoas e das mercadorias tem vindo a aprofundar o fosso entre os mais ricos e
os mais pobres mesmo em regiões do globo em que a riqueza global criada tem
subido significativamente.
Estamos a viver cada vez mais numa sociedade das desigualdades. Será
uma sociedade crispada e potencialmente violenta. É uma sociedade injusta. O
meu sonho do século XXI não tinha este pesadelo. Há que trabalhar para lhe dar
a volta.
PS: Dada a minha condição de
candidato às próximas eleições europeias, não me referirei nos termos da lei a
temas diretamente relacionados com essas eleições, nas crónicas que tenham data de publicação
durante o período de campanha eleitoral.
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