Audição
2014/10/01 14:27
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Por decisão do grupo dos Socialistas e Democratas
do Parlamento Europeu foi-me atribuída a função de abrir em nome desse Grupo a
audição ao Comissário indigitado por Portugal, Carlos Moedas, no domínio da sua
área de responsabilidade, ou seja, no domínio da Investigação, da Ciência e da
Inovação.
Antes de chegarmos à audição de Moedas muita água
tinha passado debaixo das pontes. O PS defendeu que em nome do interesse
nacional o Governo apresentasse uma lista de potenciais Comissários que nos
permitisse ter uma pasta de relevo no domínio da conclusão da arquitectura da
União Económica e Financeira (UEM). Teria sido uma decisão boa para Portugal
mas que o Governo não seguiu.
Depois da rábula com Maria Luis Albuquerque, o governo
indigitou Carlos Moedas. Com intenções que posso imaginar mas não comprovar,
foi proposto não obstante o perfil do indigitado, entregar-lhe a pasta do
Emprego. Batemos-mos contra isso. Como tive oportunidade de escrever na altura
prefiro uma belga com sensibilidade social do que um português especializado em
empobrecimento e desemprego para cuidar dos temas da criação de emprego na
Europa.
A verdade é que de forma legítima embora
politicamente discutível o Governo manteve a aposta em Carlos Moedas e Juncker
acabou por lhe atribuir a pasta da Investigação, da Ciência e da Inovação. É
sem dúvida uma pasta relevante e não havendo flexibilidade do Governo quanto ao
indigitado, era pelo menos uma pasta em que os danos feitos em Portugal só
indirectamente lhe podem ser atribuídos. Passos Coelho e Nuno Crato são os
paladinos do ataque à ciência, ao conhecimento e à inovação em Portugal.
Ao ficar com a Investigação, a Ciência e a
Inovação, Carlos Moedas passou a ficar sobre o escrutínio directo da Comissão do
Parlamento Europeu que segue a Indústria, as Telecomunicações, a Investigação e
a Energia (ITRE) e na qual sou o único deputado português efectivo. Parti para
essa tarefa com uma convicção. A luta política nacional travou-se até à
indigitação. Uma vez indigitado o Comissário, o importante era obter
compromissos e criar condições para que o seu desempenho possa servir o
interesse dos europeus em geral e dos portugueses em particular.
Carlos Moedas foi aprovado. Comprometeu-se na
sequência da minha pergunta em tentar capturar parte do programa de Crescimento
e Emprego defendido por Juncker para a Inovação e para a Investigação. Foi
menos assertivo no compromisso de se bater contra os cortes do Conselho Europeu
no financiamento do Horizonte 2020. Lembro ao terminar a lenda de Salomão e das
duas mães que reclamavam como sua a mesma criança. Quem acredita no papel
decisivo da Investigação, da Ciência e da Inovação não pode começar por
fragilizar o Comissário que se vai bater por elas, com base em argumentos de política
interna. Pode e deve é manter-se atento e vigilante. É o que farei.
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