A Contingência Europeia (a propósito de um livro homónimo de António Covas)
2016/11/05 19:19
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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No passado dia 4 de Novembro apresentei
na Universidade de Évora o Livro “A Contingência Europeia – As linhas de
fratura e a transição para a União Política” da autoria de António Covas, antigo
docente da Universidade de Évora e atualmente Professor Catedrático da Universidade
do Algarve.
Trata-se de um livro de grande
atualidade face à crise que se infiltrou no processo de construção europeia e à
expetativa de que na Cimeira especial agendada para Março de 2017 em Roma, por
ocasião dos sessenta anos do Tratado fundador da então Comunidade Económica
Europeia, possa ser definida uma direção mais forte e mobilizadora para o
futuro.
O que estará em jogo na Cimeira de Roma,
designadamente a solidificação de um código de entendimento para a paz
duradoura nos territórios da União, a capacidade da Europa intervir na
regulação do processo de globalização e a consolidação da democracia face aos
populismos radicais, exige que enquanto cidadãos nos preparemos para intervir
num debate que pode ser o debate das nossas vidas e das gerações que nos
sucedem.
Para este efeito o Livro de António
Covas é um excelente repositório de análise e proposta de caminhos possíveis,
inspirado por um forte idealismo pró-europeu e pela confiança na capacidade dos
europeus agirem de forma concertada sobre as fraturas expostas da construção
europeia, designadamente o unilateralismo alemão, a fragilidade da União
Económica e Monetária inacabada, a ausência de uma política externa comum
estável, os riscos de secessão despoletados pelo “Brexit” e o descontentamento dos
povos europeus com o rumo tomado pela União.
Não é possível sintetizar a riqueza da
obra, que pugna pela europeização da Alemanha em detrimento da Germanização da
Europa e pelo federalismo assumido em vez do intergovernamentalismo “à la
carte” neste pequeno texto. Destaco por isso duas ideias fortes que marcam o
oportuno livro de António Covas (Edições Sílabo).
A primeira ideia que destaco é a
proposta de um modelo de governação que cruze no plano europeu a dimensão
vertical do poder institucional com a dimensão transversal das comunidades de
interesse. Esta proposta do autor reflete um contexto em que as chaves da
mobilização para a participação cívica são tão importantes quanto os critérios
da representação democrática.
A segunda ideia que destaco é a proposta
de uma aliança entre o multilateralismo e o “neoregionalismo”. O multilateralismo
é decisivo. O segundo depende, como se viu na recente tentativa da Valónia de
bloquear o acordo de livre comércio entre a UE e o Canadá. Mas face à
contingência europeia, todos os caminhos devem ser ponderados, para
encontrarmos um rumo mobilizador para o nosso futuro comum.
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