O Risco da Fragmentação
Após mais de um ano de intrusão da linguagem militar no nosso dia a dia, puxada pelo necessário noticiário e debate em torno da invasão da Ucrânia pela Federação Russa e pelo assanhar das ações ofensivas e defensivas, é normal que alguns termos e conceitos comecem a transbordar para outos temas e a alimentar metáforas e analogias.
Um dos debates mais recentes focou-se no fornecimento ao País agredido de armas de fragmentação, já usadas pelo opressor, que por atuarem de forma aleatória sobre alguns alvos levantam muitas questões éticas e morais. Não deixa de ser curiosa esta dicotomia de guerra, em que por um lado existem armas cada vez mais sofisticadas e capazes de atingir alvos com precisão milimétrica e por outro lado também se desenvolvem armas que usam exatamente a dispersão para aumentar o terror, justificar o atingir de alvos civis e disseminar a guerra alargando o seu rasto de destruição e contaminação.
Este texto não é sobre armamento militar, mas sobre uma analogia que dele pode decorrer. Portugal está na fase decisiva de aplicação do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) que ficou conhecido popularmente como a “Bazuca”. Nem no nosso País nem em nenhum outro País da União Europeia a Bazuca tem sido fácil de artilhar e de disparar, embora Portugal ocupe os primeiros lugares na eficácia e na eficiência comparada. Há muita ação simultânea, as regras de exercício não facilitam e o estado da economia global não ajuda.
A Bazuca, no seu permanente processo de afinação deve ser sobretudo uma arma de precisão ou uma arma de fragmentação? Como na guerra, a escolha depende dos contextos e dos cenários de batalha, mas a minha intuição é que ganharemos mais com tiros de precisão do que com munições de fragmentação. São mais claros de comunicar, agregam mais poder transformador, têm impactos mais estruturais e permitem uma mobilização de vontades e recursos para uma fita temporal mais alargada.
O Partido Socialista será o último Partido a iniciar o ano político, regressando com a sua Academia Socialista a Évora e ao Alentejo. 2023/2024 será um ano politicamente exigente, mas que promete tempos melhores se a evolução da Guerra e da Economia internacional ajudarem. Face aos discursos generalistas e fluidos das oposições, o Partido do Governo deve reforçar o seu compromisso com as grandes políticas que farão a diferença. Com a justiça social. Com a justiça fiscal. Com a justiça territorial. Com a precisão necessária para evitar o risco da fragmentação.