Fazia-se cá Ski ...
Este tempo de festividades é associado, pelo menos no nosso hemisfério, à alvura das paisagens cobertas de neve, lembrando a Lapónia onde se diz que o Pai Natal fixa residência quando não anda a vaguear de chaminé em chaminé. Pela nossa terra tem estado frio e aqui e ali já nevou, mas até a Serra da Estrela tem este ano mais dificuldades em atrair os amantes da neve e dos desportos que nela se praticam, devido aos cuidados e precauções a que a pandemia nos obriga.
Mas a que propósito me deu hoje para escrever sobre neve e ski, trauteando a velha canção (de 1981) da banda “salada de frutas”, se cá nevasse ...fazia-se cá ski (e outras variações que todos conhecem mas não são para aqui chamadas) . O motivo foi uma noticia surpreendente do Diário do Sul que dava conta que o eborense José Cabeça, de 24 anos, obteve a qualificação para os campeonatos do mundo de esqui de fundo.
Felicito o atleta pela sua perseverança, que pelo que li já o levou a destacar-se na difícil especialidade do Triatlo e que agora se aventura a ser campeão de esqui numa terra de sequeiro e que segue, consciente das dificuldades, o sonho de se apurar para os Jogos Olímpicos de inverno de 2022. Oxalá hajam jogos e que ele se apure.
Mas esta história que aqui repesquei é uma lição perfeita para os tempos que vivemos. É normal que nestes tempos de exceção muitos de nós nos deixemos deslizar melancolicamente para a ideia do que poderia ser a nossa vida se não fosse o tropeção brutal do vírus que se atravessou em toda a sociedade.
Se cá nevasse, ou seja, se não se tivessem concretizado as ameaças pandémicas para que já vínhamos sendo alertados há alguns anos, outra seria a nossa vida agora, os nossos planos imediatos, as nossas prioridades e desejos. Mas não neva. Por isso temos que ser resilientes e pensar que com determinação e vontade acabaremos, melhor ou pior, por percorrer esta pista e chegar vivos e motivados a tempos melhores.
É banal escrever que o ano de 2020 será um ano para lembrar. Terá sido talvez o ano mais desafiante para muitos de nós, mas na fita do tempo foi apenas mais um ano mau, como tantos outros que a história nos reporta, pejados de doenças, perseguições, catástrofes naturais ou guerras sanguinárias.
Se cá nevasse teríamos mais carinho com proximidade no Natal e mais animação na passagem do ano. Mas como não é isso que acontece, teremos que nos reinventar e nunca perder o sonho, para não deixarmos de viver os momentos que se aproximam com a plenitude possível, nem nos deixarmos despistar no trilho escorregadio que nos haverá de conduzir a um futuro com mais saúde, alegria e convívio, pelo qual naturalmente ansiamos.