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Tudo Bons Rapazes




No contexto da disputa interna que está a decorrer no PS tive uma interessante conversa com um dos meus colegas de Partido que mais admiro. Um analista já muito experiente do fenómeno político. Dizia-me ele que existe uma ética política em cada ator ou organização, mas não uma moral específica, ou antes, a moral prevalecente na política é a moral da afirmação do poder, no quadro constitucional ou legal em que essa afirmação se processa.

 

 Um pouco na linha dos ensinamentos de Maquiavel, o meu colega não chegou ao ponto de me dizer que os fins justificam os meios, mas defendeu com argumentos fortes que os meios devem ser os adequados para atingir os fins, o que em última análise só constitui uma divergência semântica. Quanto à ética, para o meu interlocutor, ela reside nos valores e na forma. Segundo ele, se tivermos a crença de que o nosso projeto é o melhor para a comunidade que representamos, temos o dever moral de lutar por ele, mesmo que isso signifique abater inimigos externos ou internos. Este abater, literal no passado, é hoje um conceito simbólico de destruição política.

 

Esta conversa pela sua frontalidade e pelo perfil do meu amigo marcou-me muito. Os meus leitores sabem que nas crónicas de Agosto costumo fazer algumas incursões mais pessoais e é o que volto a fazer neste texto. Confesso que esta conversa me fez reler alguns textos de psicologia política e atualizar algumas leituras sobre novas áreas de investigação. E lá voltei a ver as análises das histórias de sucesso político e da emergência dos “misericordiosos” sobre todos os outros na sociedade mediática em que vivemos. Este é o tempo dos bons rapazes (e das boas raparigas).

 

Com uma moral reduzida à aplicação bem calibrada do instinto matador compreende-se que quem mata sempre se torna mais cedo ou mais tarde odiado pela prepotência e que quem nunca mata acabe por ficar rotulado de benévolo, para usar um termo também ele benevolente. O povo “adora”, hoje como no passado, os que matando por norma se glorificam pelo perdão ocasional. Era assim no circo romano. É assim no “circo” político-mediático em que vivemos.

 

Sou um professor universitário que adora política. Não estranho por isso quando os meus amigos me dizem que eu não pareço um político como os outros.  Detesto estereótipos. Os políticos representam o espectro social em que se inserem. E concordo com eles quando dizem que não tenho instinto matador. Que procuro compreender o lado humano mesmo dos que me tentam “matar”. Que quando venço não exijo o troféu da humilhação do outro.

 

Um outro amigo costuma dizer-me que só há duas opções. Confiar que todas as pessoas são boas e depois ter desilusões ou desconfiar que todas são más e depois ter boas surpresas. Segundo este amigo na ação política deve-se escolher o segundo caminho. Eu escolhi o primeiro e não me arrependo. A minha vida tem sido inundada de gente boa e isso compensa todas as desilusões do percurso. Agradeço a todos os que confiei e que confiaram em mim, porque temos feito acontecer.

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

  

     

 
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