Saúde
Saúde é aquilo que mais desejamos para nós próprios e para os outros. Não é de agora, mas o sentido desse voto, algumas vezes sobre a forma de brinde, ganhou novo significado com a pandemia. De repente a saúde passou a ser um tema ainda mais central para toda a sociedade, a ocupar grande parte do espaço mediático e a tomar conta de quase todas as conversas.
Sem surpresa, os comentadores em saúde começaram a disputar o espaço aos comentadores desportivos e naturalmente temas que na sua raiz são domínios científicos sofisticados, popularizaram-se e entraram de forma dominante no discurso social e político.
Alguns desses comentadores em saúde, como antes já acontecia com os comentadores desportivos ou doutros temas transversais na sociedade, são agora avidamente disputados por algumas forças políticas, porque passaram a ser conhecidos e como tal se tornaram potenciais trunfos eleitorais.
Faço esta constatação para induzir os meus leitores a uma reflexão. Não podemos pressupor, e bem, que os desafios complexos da pandemia exigiram uma mudança sistémica na forma como se preparam e concretizam as respostas em saúde, desde a prevenção até ao tratamento mais diferenciado e ao mesmo tempo continuar a raciocinar sectorialmente, com cada agente do setor a defender o seu território e comalgumas forças políticas a talharem promessas concretas para a agradar a cada um desses múltiplos agentes, que se avaliadas na sua globalidade construiriam um puzzle inapropriado e inexequível.
A pandemia relevou ainda mais a centralidade do Sistema Nacional de Saúde e a importância de o reforçar de forma integrada, aprendendo com a experiência e aproveitando o merecido reconhecimento hoje dado pela sociedade ao seu papel e ao papel dos seus profissionais.
Esse reforço tem, no entanto, que ter em conta o relacionamento inteligente com os sistemas privados ou cooperativos, com os centros de conhecimento, os laboratórios e a indústria, com os sistemas logísticos e os corpos de proteção, socorro e segurança, com a rede social (e com as redes sociais no combate á desinformação e na prestação assertiva de contas), com as autarquias, as comunidades e as famílias.
Quando vencermos a pandemia, também nas respostas em saúde nada vai continuar a ser igual. As exigências serão maiores e as respostas terão que estar à altura, apoiadas no enorme progresso científico e tecnológico conseguido, nas aprendizagens organizacionais e na consciência acrescida da sociedade para o tema. Vamos continuar a desejar saúde para nós próprios e para os outros, mas esse desejo será a partir de agora bem menos abstrato e circunstancial do que era dantes.