Os Vilões
2015/01/02 22:24
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Pela análise dos estudos de opinião feitos na generalidade dos países
democráticos, os políticos são os grandes vilões do século XXI e da crise
social e económica que vai grassando pelo planeta.
Certamente que os políticos, e digo-o assumindo plenamente a minha
condição de representante político, têm muitas culpas no cartório e outras que
nem registadas estão, mas uma análise mais detalhada do que aconteceu nas
últimas duas décadas, em particular na União Europeia, não pode deixar de nos
fazer pensar noutra correlação.
Mais do que o sistema político,
o que mudou nestes anos foi o sistema de regulação financeira e a autonomia
crescente dos bancos centrais.
Perante uma crise de origem financeira, os responsáveis do sistema,
quer no plano europeu (em especial o Banco Central Europeu - BCE), quer no
plano nacional (em especial os autónomos Presidentes dos Bancos Centrais e
muito em especial o Banco Central Alemão), a responsabilidade da má gestão tem
que ser no mínimo repartida entre os políticos e os banqueiros centrais, já que
os outros banqueiros apenas se aproveitaram da fragilidade destes.
Conhecedores dos meus gostos e dos debates salutares que vamos tendo no
plano familiar, os meus filhos, que estudam ambos em domínios correlacionados
com a economia e a gestão internacional, ofereceram-me no Natal um livro de
Phillipe Legrain (Primavera Europeia, Relógio de Água 2014) cuja leitura
recomendo e que é muito esclarecedor do tópico que abordo nesta crónica (embora
noutros temas, como a transição energética, deixe muito a desejar).
Legrain, reputado especialista internacional que foi entre 2011 e 2013
Conselheiro Independente do Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão
Barroso, de quem se afastou por não ter vistas acolhidas as suas sugestões,
mostra de forma clara como em todos os momentos decisivos na gestão da crise
financeira europeia, o BCE e o Banco Central Alemão, sob a poderosa longa mão
do Governo Alemão, optaram pelos credores em detrimento dos contribuintes.
A acção de emergência de Mario Draghi, o atual presidente do BCE ao
anunciar que o Banco Central Europeu fará o necessário para salvar o Euro dando
assim um suplemento de confiança aos mercados, criou uma bonança que vai voltar
a ser testada com as eleições gregas que se aproximam.
Veremos se na próxima encruzilhada será possível dar aos contribuintes
prioridade sobre os credores, fazendo do BCE um prestamista de último recurso,
ou seja um garante da solvabilidade global da Zona Euro.
No dia em que os contribuintes
alemães forem chamados a salvar a Alemanha isso será possível e todas as
barreiras desaparecerão, para que a solidariedade europeia funcione.
Mas se se fizesse antes, muitos
sacrifícios desnecessários poderiam ser evitados por essa Europa fora. Até os
sacrifícios futuros dos que agora se deleitam a salvar os mais fortes e a punir
os mais fracos.
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