Democracia Radical
2015/01/18 10:34
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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No início da década passada, era
Secretário - Geral do Partido Socialista (PS) Ferro Rodrigues, integrei uma
equipa de trabalho cujo objetivo foi rever e atualizar as linhas de orientação
programática do Partido. Foi uma experiência muito enriquecedora e dela guardei
várias recordações, uma das quais me veio à memória no debate que se tem
seguido aos nefastos acontecimentos de Paris.
A certa altura do debate, o grupo refletiu
sobre o que deveria ser o PS enquanto Partido. Claro que nunca se pôs em causa
o posicionamento como grande Partido português da esquerda democrática. Mas
isso significava o quê? Ser Social-Democrata ou Socialista – Democrático? Estas
eram soluções óbvias, mas pouco definidoras. Social – Democrata até um Partido
da direita conservadora como o PSD se afirma e o Socialismo Democrático perdeu
alguma força como marca diferenciadora após a queda do Muro de Berlim e com o
papel residual do Socialismo Científico e Totalitário nos dias de hoje.
Na altura, a solução que encontrámos foi
definir o PS como um Partido Democrata Radical. Foi uma base de trabalho que
acabou por não ficar explicitada de forma direta mas que inspirou todo o nosso
trabalho.
O
qualificativo de Radical é normalmente visto como pouco positivo, mas depende
daquilo a que se aplica. Esquerda ou direita radical por exemplo é normalmente sinónimo
de intolerância e maniqueísmo. Mas a democracia não tem limites. Quanto mais
radical for melhor. Na minha perspetiva todos os problemas e insuficiências da
democracia devem encontrar respostas na própria democracia, cujos princípios
são perenes, mas cujas práticas se têm que alterar com a evolução da sociedade.
Muito se tem discutido se a Democracia
resiste ao terrorismo. A verdade é que o mundo está cheio de regimes
autocráticos em que os níveis violência por motivos civilizacionais, étnicos ou
territoriais são tão grandes ou mesmo muito superiores ao que se verifica em
democracia. E a essa violência tem que se somar a violência dos próprios
regimes, incluindo a maior das violências que é a coação da liberdade.
Não há respostas fáceis para o momento
que estamos a viver, mas na minha perspetiva a resposta tem que ser mais e mais
democracia. Democracia mais transparente, mais participada, mais fundada nos
valores comuns, mais capaz de tolerar a diferença sem ceder nos princípios,
mais autêntica, mais sentida por cada cidadão como a sua matriz de vida em
comunidade e como plataforma a partir da qual pode exercer a sua
individualidade, incluindo a sua individualidade religiosa.
A democracia é o menos mau dos regimes
conhecidos. É tempo de a tornar melhor. Forte, adequada a cada quadro
civilizacional, intransigente nos princípios, transparente, mobilizadora e
participada. Radical.
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