Lula e os Incendiários
Steve Bannon, um dos principais estrategas de Trump, reagiu à ambígua aceitação de Bolsonaro dos resultados da segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, que, não obstante a enorme fratura exposta que dilacera a sociedade do Brasil, determinou a vitória de Lula da Silva, afirmando que o Presidente vencido não deveria ter aceitado a derrota.
Nos Estados Unidos, Trump e os seus apoiantes continuam a cavalgada judicial e política baseada na negação da evidente e confirmada vitória de Joe Biden, aumentado de forma preocupante a crispação na sociedade americana.
No Brasil proliferaram os relatos de tensão, de focos de resistência à aceitação da vontade maioritária do eleitorado e de apelos à intervenção das forças militarizadas para lideraram um golpe antidemocrático. Se Bolsonaro tivesse seguido o conselho de Bannon, a situação teria sido profundamente agravada e uma “guerra civil” de nova geração, travada nasruas e nas redes sociais, teria sido praticamente inevitável.
Bannon e a sua empresa de consultadoria política é um dos muitos centros especializados que têm trabalhado na Europa e um pouco por todo o mundo para consolidar redes de movimentos populistas prontos a contestar as regras democráticas, atuando com base em realidades fabricadas e replicadas até serem aceites como verdades, por seitas radicalizadas e fáceis de manipular.
Estas manobras incendiárias, geram profundas feridas e zonas de terra queimada, criando espaço para a promoção de uma enorme panóplia de negócios ilegais, em que a proliferação das armas convencionais e das ferramentas para os ataques cibernéticos são apenas os mais diretamente visíveis.
Depois de rotundos falhanços em algumas apostas, em particular na União Europeia, os populistas radicais têm vindo a ganhar terreno nalgumas eleições recentes. Em várias zonas do globo, em particular na América Latina, a resposta às tentativas dos radicais de direita, gerou uma radicalização vencedora dos movimentos de esquerda, que hoje governam em praticamente todo o subcontinente, também com discursos de base populista, mas sem filiação em redes de manipulação do tipo daquelas que se identificam na direita radical.
A forma serena, consistente e abrangente como Lula tem estado a preparar a transição do poder no Brasil é muito relevante. Não vai ser fácil serenar e unir o Brasil para os desafios de desenvolvimento e crescimento que vai enfrentar, mas se o conseguir, isso não será apenas importante para o povo brasileiro. Será um sinal de esperança para todo o mundo.