Pingue-pongue
Por ocasião de uma simbólica sessão plenária com a participação da Presidente do Parlamento Europeu Roberta Metzola, voltei à Assembleia da República Portuguesa,casa maior da nossa democracia e instituição muito marcante na minha vida, para a qual fui eleito como Deputado pelo Distrito de Évora cinco vezes e na qual desempenhei múltiplas funções, a mais relevante das quais foi a liderança do Grupo Parlamentar doPartido Socialista, nos primeiros anos da década passada.
Voltar à Assembleia da República foi e é para mim sempre um momento de muitas emoções, encontros, reencontros e memórias fortes de tempos que nem sempre foram fáceis, mas que foram sempre muito intensos e gratificantes.
No atual Parlamento reconheci ainda várias “caras” do meu tempo no quadro de uma renovação geracional notória e necessária. Encontrei também, ao vivo e a cores, um registo político que não me surpreendeu, já que também no Parlamento Europeu vai grassando ainda que com menos rispidez, mas se afasta do debate de propostas e da troca de ideias e valoriza as proclamações gizadas para ganhar espaço na onda mediática.
As excelentes intervenções do Presidente da Assembleia da República e da Presidente do Parlamento Europeu deram origem a análises e perguntas serenas da bancada do PS e do PSD e a um pingue-pongue de tiradas entre os extremos, para os quais o enquadramento da sessão foi apenas isso; um enquadramento para mais um episódio do combate demagógico pelos favores das emoções do momento.
Há quem diga que quem assim procede “dá voz ao povo” e por isso vai mantendo à tona a sua popularidade. A questão da superficialidade no exercício político preocupa-me. Opingue-pongue entre forças politicas que interagem com a sociedade através dos media,produz um discurso que se autoalimenta, mas não conduz a propostas concretas, viáveis, com tração para melhorarem a vida e resolverem os problemas das pessoas.
Uma sondagem recente deu conta de um descontentamento ou insatisfação elevada dos portugueses com as instituições da democracia, com pequenas exceções para os presidentes de proximidade, sejam das Freguesias, seja da Republica. A insatisfação faz parte do nosso ADN e viajou connosco em mais de novecentos anos de história. Vencemos quando descontentes nos unimos para transformar. Perdemos quando insatisfeitos nos refugiámos nas querelas discursivas e tonitruantes. Na AR onde voltei nota-se que há atalhos para avançar e atalhos para rodopiar. O pinque -pongue é divertido, mas é um jogo. Não faz caminho.