Abril 48
Passaram 48 anos sobre o dia libertador de 25 de Abril de 1974, tantos anos quantos os que antes estivemos mergulhados num regime ditatorial e obscurantista, que nos atrasou meio século e espalhou o medo e a frustração em ao longo de várias gerações.
Celebrar abril 48 anos, é uma oportunidade de analisar os seus frutos com frontalidadee respeito pela diversidade de pontos de vista, e é também um momento em que somos desafiados a projetar e a ser parte no nosso futuro coletivo num quadro de liberdade e responsabilidade.
O 25 de abril tem protagonistas maiores e vários heróis que conquistaram por direito próprio um lugar na nossa história. Contudo, tendo chegado consolidado à idade madura, ganha um novo sentido o slogan tantas vezes repetido de que o 25 de Abril é do povo. Do povo que se opôs à ditadura, do povo que saiu às ruas para defender a revolução e do povo que nas sucessivas eleições e também nas ruas e praças quando necessário, afirmou a sua escolha por uma democracia constitucional representativa e pluralista.
Ninguém tem o direito de se apropriar de abril, nem de querer impor uma narrativa oficial sobre o que ele foi, significou e como a partir dele evoluímos para um País que tendo fragilidades e muitos desafios a enfrentar, é hoje uma nação desenvolvida, moderna, cosmopolita, democrática e reconhecida no plano europeu e no plano global.
Celebrar abril é por natureza celebrar a festa da democracia. 48 anos depois essa celebração exige de cada um de nós uma reflexão atenta que nos convoque para a ação necessária. Uma reflexão sobre o que correu bem e o que ainda está por conseguir. Uma reflexão sobre as escolhas que fomos fazendo e os seus resultados. Uma reflexão sobre as ameaças que assolam o mundo e a que não somos incólumes. Uma reflexão sobre como nos podemos voltar a mobilizar, como o fizemos para defender abril das tentações de apropriação e captura por uma minoria ideológica no alvor da revolução, para evitarmos que grassem agora os populismos que cavalgam as dificuldades para destruir os fundamentos do nosso pluralismo democrático aberto e impor visões divisionistas e autoritárias.
Uma reflexão que conduza à ação. Não apenas à ação nobre do direito de escolha, mas também no inconformismo construtivo para rasgar de vez as amarras das assimetrias territoriais, das desigualdades grosseiras, das fraquezas demográficas e das limitações de produtividade e investimento, que fazem com que celebremos abril com a plenitude do orgulho pelo que somos e a consciência do muito que ainda nos falta ser