Marcelo
2016/03/12 12:45
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O facto político mais relevante das últimas semanas em Portugal foi a
passagem à reforma política de Aníbal Cavaco Silva. Embora sempre tenha mantido
uma relação cordata com o Ex- Presidente da Republica (com o Primeiro –
Ministro Cavaco Silva não me recordo de alguma vez ter falado pessoalmente),
sempre fui frontalmente seu adversário político, discordando da forma e do tom
do seu exercício, em particular na fase final da sua magistratura executiva e
no seu segundo mandato presidencial.
Agora que Aníbal Cavaco Silva saiu de cena não vou repetir críticas que
nunca me coibi de fazer em devido tempo. Desejo-lhe as maiores felicidades
pessoais. Se falo nele nesta crónica é apenas para realçar o contraste de
atitude entre ele e o seu substituto Marcelo Rebelo de Sousa.
Mantive sempre com Marcelo Rebelo de Sousa uma relação cordial. No
entanto, não apoiei nem desejei a sua eleição, porque preferia um candidato que
emergisse do centro esquerda e não um candidato, que embora pela sua
notoriedade e intensidade tenha sido eleito com votos de diversas franjas
politicas e sociológicas, assentou a sua eleição na base social de apoio que
sustentou o governo de direita de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
Mas agora a reforma deu-se. Uma “reforma” estrutural. Temos um novo
Presidente. É preciso aproveitar o virar de página e tirar dela o melhor que ela
nos pode dar.
Saiu um Presidente cansado, amargo, submisso e que nunca se libertou do
espartilho da sua base política de eleição e da teia de interesses a ela
associada e entrou um Presidente jovial, cosmopolita, próximo e com potencial
para exercer o papel que eu espero de um Presidente da República, que é a
partir de agora, se cumprir a sua palavra, o Presidente de todos os
portugueses.
Além de garante supremo da Constituição, tenho para mim que o maior
contributo que se pode esperar de um Presidente da República é que ele seja
capaz de mobilizar o País enquanto comunidade de valores e de identidades,
aumentar a sua autoestima, promover o “ser português” no mundo, reforçar os
laços com os outros povos e deixar respirar a política, o contraditório, o
debate ideológico e os mecanismos de escolha e decisão próprios da democracia.
A politiquice é uma doença democrática paralisante que só o exercício
nobre da política pode mitigar. Portugal tem agora um Presidente que cresceu na
política, que se construiu como candidato na política e que é um político
altamente qualificado. Não é um político em negação da sua natureza como foi o
seu antecessor, mas um político que se assume como tal com orgulho.
Acredito por isso que como referiu no seu discurso de posse seja um
bastião de defesa da grande política e um obstáculo à politiquice, aos jogos de
interesses, à corrupção ética, moral ou económica e ao nepotismo. Um
referencial, como deve ser o mais alto representante da nação.
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