Erasmus Para Todos
2019/03/30 09:17
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O programa Erasmus que permite a mobilidade de estudantes dentro da União Europeia (UE) e nalgumas variantes específicas fora dela, e já se alargou também a domínios de intercâmbio profissional, é um dos programas europeus mais bem-sucedidos.
A avaliação do impacto do programa na atitude dos jovens perante a União Europeia é brutal. Nas eleições para o Parlamento Europeu de 2014, no território da UE, menos de 20% dos estudantes do ensino superior que fizeram o programa de intercâmbio se abstiveram enquanto entre os outros jovens a abstenção chegou aos 70%.
A União Europeia é mais amada por quem a conhece numa abordagem alargada do que por quem apenas sente o seu impacto nacional ou regional. Precisamos por isso de um Erasmus para todos e de proporcionar um melhor conhecimento da realidade europeia na sua diversidade, aos mais novos e também aos menos novos.
Não faz sentido que tantos jovens europeus continuem hoje, por razões económicas ou outras, a não poder conhecer uma parte significativa do território da comunidade política, económica e social em que vão crescer e desenvolver o seu projeto de vida.
Também para os menos jovens, a possibilidade de contactarem diretamente com outras realidades e experiências tem um valor inestimável, que justifica um investimentoconsistente para aumentar as oportunidades de intercâmbios.
Embora por razões familiares tenha vivido parte da minha infância e juventude em África, já tinha mais de 20 anos quando passei a fronteira de Portugal rumo à Europa numa memorável viagem de trinta dias de comboio usando o Inter Rail, outro instrumento inestimável na consolidação do sentimento europeu em muitas gerações.Mais tarde beneficiei de uma bolsa para fazer parte do meu doutoramento em França. Estas duas experiências foram estruturantes da minha personalidade e ajudaram-se a capacitar para as funções que hoje desempenho.
Na sua proposta de Quadro Plurianual de Financiamento 2021-2027 a Comissão Europeia reconhece o sucesso dos programas de intercâmbio e propõe a duplicação do seu financiamento. O Parlamento Europeu foi mais ambicioso e contrapôs uma dotação orçamental triplicada, visando aumentar muito as oportunidades proporcionadas e sobretudos torná-las mais inclusivas.
Nos últimos trinta anos certa de nove milhões de pessoas viajaram pela UE beneficiando de programas de intercâmbio para os diversos públicos. Entre eles contabilizam-se 220 000 portugueses. Duvido que tenha havido investimento melhor. Devemos continuar o caminho com triplicada ambição.
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