Metavisão
Sem desígnio não há propósito e sem propósito não há padrão para gerar os significados que fazem dos dados o combustível de um futuro melhor.
No ultimo texto aqui publicado aventurei-me por uma reflexão livre sobre os números e a comunicação política que surpreendentemente ou talvez não, gerou um elevado volume de reações e comentários. Os sinais de que a comunicação política precisa de um refrescamento para se adequar aos novos tempos e mobilizar os cidadãos para serem também eles protagonistas na gestão da “polis” parecem ser fortes e indiciadores de que vale a pena ir um pouco mais fundo na reflexão.
A chave da comunicação está menos no que se emite do que na interpretação do que se recebe, ou seja, no padrão interpretativo que dá significado aos dados, se o objetivo for informar. Se o objetivo for mobilizar para a ação, ao significado tem que se juntar o propósito para induzir a alquimia que transforma informação em conhecimento e ação.
Foi há mais de três décadas que a partir da minha dissertação de Doutoramento na especialidade de Gestão da Informação, desenvolvi o modelo Metavisão, que combina a engenharia da gestão dos dados, com a arquitetura da gestão dos padrões e o urbanismo da gestão dos propósitos. Já nesse tempo, tendo por objeto as organizações, propus que a virtualização do que se quer atingir deveria ser a referência para a transformaçãofocada naquilo que se deseja tornar realidade.
Voltado ao campo da política, sem desígnio que possa ser partilhado por uns e contestado por outros como é próprio da democracia, emerge uma babel de contradições e mensagens avulsas que são engolidas pelo efémero e adubam o sentimento de desânimo ou de rejeição por defeito, terreno onde silvam os populismos.
O desígnio coletivo enquadra os propósitos individuais e estes geram os padrões como referenciais arquitetónicos que determinam os significados. A partir daqui entramos no território da espiral da comunicação e da engenharia dos dados que ela consome e produz.
Atribuem ao ex-chanceler alemão Helmut Schmidt a afirmação de que “um político que tem visões deve ir ao médico”. A minha convicção profunda é que um projeto político democrático que não consiga envolver uma relevante maioria social na sua elaboração eaplicação concreta, através de visões e ações partilhadas, ficará a boiar à tona da História, sujeito a esvair-se na espuma dos dias ou a ser engolido por uma onda “providencial” em que os populismos autocráticos são cada vez mais férteis