Diálogo com "Surdos"
2013/07/20 15:22
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O diálogo para obtenção de um compromisso de salvação nacional, de
acordo com o solicitado pelo Presidente da República falhou.
Visto em retrospectiva e sem preconceitos, penso que o PS esteve
durante nove reuniões a dialogar com interlocutores que estão em estado de
negação em relação à realidade do País.
Um estado de negação que faz com que não queiram ouvir, não obstante
terem o seu sistema auditivo de plena saúde. Diz o povo que “o pior cego é o
que não quer ver”. Não vou usar aqui qualificativos. Direi apenas que os surdos
mais surdos são os que não quer ouvir.
A base de um compromisso para o crescimento e o emprego não poderia
deixar de ser um quadro de entendimento quando aos passos de renegociação do
modelo de pagamento da dívida. A partir daí toda a discussão é legítima.
Mais ou menos economia verde? Mais inovação ou mais subcontratação.
Mais logística ou mais especialização e controlo de nichos? Mais
empreendedorismo ou mais alastramento? Mais qualificação conceptual ou mais
formação operacional?
No entanto sem um quadro de renegociação do pagamento da dívida nada
disso faz sentido discutir. O caminho é mais empobrecimento, mais desemprego e
menos capacidade de afirmação da economia do País. Essa continua a ser a
escolha de Passos Coelho repetida na recente discussão da moção de censura que
os Verdes lhe facultaram e colocada no papel pelo discurso tecnocrático e desistente
de Maria Luis Albuquerque.
O Partido Socialista divulgou a base da sua proposta para a negociação.
O PSD também. Agora teremos um debate acicatado sobre se a falta de ambição do
PSD se justifica ou se a visão afirmativa do PS é sustentada.
É uma falsa discussão se nos esquecermos da premissa. Queremos como
Gaspar quis até reconhecer o erro, continuar a ser replicadores da troika e a
aplicar as suas receitas de asfixia da economia e erosão social ou temos a
coragem de nos afirmarmos como País soberano que quer pagar os seus
compromissos, mas quer ao mesmo tempo condições para que isso seja possível?
Renegociação das condições de pagamento da dívida. Peço aos meus
leitores que fixem bem esta ideia. Quem vos prometer soluções sem este
pressuposto é porque ignora ou quer ignorar a situação económica e financeira
em que estamos, ou pior que isso, já se resignou à tragédia económica e social
que se anuncia.
Eu não me resigno e tenho orgulho de pertencer a um Partido que também
não se resigna. Nós acreditamos em Portugal e nos portugueses. Não desistimos.
Não atiramos a toalha ao chão. Não nos conseguimos entender com quem já o fez.
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