Cabo Delgado
Já aqui partilhei mais do que uma vez as minhas fortes ligações a Moçambique. Lá vivi uma parte importante da minha infância. Lá nasceu a minha irmã. Lá voltei algumas vezes mais tarde, quer em funções políticas quer no âmbito do meu percurso académico.
Quando desempenhei funções como Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna, tive oportunidade de desenvolver ações concretas de cooperação para capacitar melhor o País a responder aos cíclicos desastres naturais que o assolam, em particular às cheias e inundações.
Mais recentemente, tendo em conta as funções que desempenho como Presidente da Delegação do Parlamento Europeu para África, Caraíbas e Pacífico, tudo tenho feito para dar um contributo útil para pôr fim ao terror e ao sofrimento que se vive no território de Cabo Delgado.
Em Cabo Delgado é fácil saber quem são as vítimas. São as populações indefesas sujeitas a sevícias brutais, roubos, raptos e assassinatos. Ainda recentemente foi denunciada a decapitação de jovens pelos insurgentes radicalizados. Mais difícil é tipificar e conhecer na sua total dimensão e motivação dos algozes.
Na denuncia que referi foram os insurgentes a espalhar o terror ignóbil, mas há também relatos de ações inapropriadas de autoridades nacionais, mercenários e outras forças que penetraram na região. A coligação de forças que está a esmagar Moçambique e em particular Cabo Delgado é multifacetada e complexa.
Todo este cenário de gangrena humanitária e de segurança cresceu perante aquilo a que já designei como um “ensurdecedor silêncio” da comunidade internacional, quer dos países vizinhos quer das grandes potências regionais e globais.
A União Europeia também não esteve bem na fotografia durante muito tempo. Felizmente, um trabalho de equipa desenvolvido a partir do Parlamento Europeu e que integrei com grande empenho ajudou a despertá-la para uma atitude de cooperação ativa e de mobilização de uma coligação internacional de esforços à altura do problema.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros português, enquanto membro da Presidência da União e com o mandato do Alto Representante para a política externa deslocou-se ao terreno, lançando em conjunto com as autoridades moçambicanas, as raízes de uma nova etapa de cooperação, incluindo o aumento da assistência humanitária, o apoio logístico e o treino das forças de segurança moçambicanas.
O movimento da UE não resolve o problema, mas abre uma janela de oportunidade para que todos os que tem um contributo a dar para a solução, o possam fazer quanto antes.