Cosmopolitas e Populares
2019/12/28 10:08
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
| Link permanente
Há cada vez menos pessoas que olham o mundo a partir da terra em que nasceram ou cresceram. Em contrapartida, são cada vez mais aquelas que olham para a terra natal a partir dos lugares, por vezes bem distantes, para onde a vida os vai levando. Esta dicotomia crescente tem implicações políticas fortes. O agudizar de fronteiras entre a visão local e a perspetiva cosmopolita é pasto fértil para os radicalismos que vão corroendo o tutano da democracia.
As relações entre aquilo que é popular e o que é cosmopolita merece reflexão, sobretudo quando alguns sinais preocupantes de incorreta análise do fenómeno começam a ganhar tração no debate político em Portugal.
A lei eleitoral para a Assembleia da República, respeitando o princípio constitucional de um eleitor um voto e o método de Hondt para a atribuição dos mandatos, é a tampa legal de uma panela que fervecheia de distorções. A mais notória e a distorção de representação territorial. Os círculos de Lisboa e Porto elegem quase um terço dos deputados. O Alentejo, que é um terço do território nacional elege pouco mais de 3%.
Embalados por estes números, os pequenos partidos exploram-nos democraticamente, fazendo-se eleger nos mega círculos. Por seu lado, os partidos maiores parecem seduzidos pela ideia fácil, de que face à concentração demográfica, o eleitorado que conta é o eleitorado urbano e cosmopolita.
É uma conclusão perigosa e precipitada. Falo por mim.Sendo cosmopolita, as escolhas políticas que faço em cada momento em Portugal, resultam da combinação dos valores em que acredito com o que se passa na minha rua, no meu bairro, na minha cidade, na minha região e entre as pessoas que conheço.
O Partido Socialista (PS), Partido em que me orgulho de militar desde a adolescência, é um partido cosmopolita com fortes raízes populares. Sinto-o quando nas várias campanhas percorro o País de lés a lés, visito freguesias urbanas e rurais e participo emeventos de diversa índole, desde os debates especializados até às festas mais populares.
Se um Partido como o PS, por exemplo, caísse na tentação de em nome do politicamente correto, alienar a sua matriz popular, à qual mesmo os eleitores de Lisboa, do Porto e de outros litorais vêm beber suplementos de identidade, cometeria um erro crasso.
Ser cosmopolita ou popular não se coloca emalternativa. Ser cosmopolita e popular é a chave paraquem quiser continuar a defender uma democraciaforte e plural, hoje e no futuro.
Comentários