Cifrão ou Coração
2015/02/15 10:39
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Em todos os Países sujeitos à receita punitiva da austeridade tem
crescido um sentimento patriótico de recusa. Em Portugal tem sido o PS a
agregar essa vontade de mudança. Importa que em Inglaterra os Trabalhistas e em
Espanha o PSOE (Partido Socialista Obrero Espanhol) consigam o mesmo. O
fracasso do PASOK na Grécia não é um anátema. É uma lição.
O resultado eleitoral na Grécia e o processo negocial que se seguiu
continua a estar na ordem do dia. Para mim é clara a opção entre as duas
“teorias” prevalecentes. Entre o acentuar, dito preventivo, da punição aos
gregos, ou o despoletar sereno do “mea culpa” das lideranças da Eurozona, o
segundo caminho é o mais saudável e prometedor.
Se os Gregos votaram numa maioria radical populista não devem ser
castigados por isso. Em democracia, as maiorias têm a razão que decorre do
mandato que obtiveram e só a perdem se deixarem de agir democraticamente. São
as Instituições Europeias que têm que refletir sobre as razões que levaram a um
voto massivo de protesto na Grécia e arrepiar caminho, para que esta dinâmica
não se multiplique.
Dos muitos argumentos que os situacionistas têm desenvolvido contra o
novo Governo Grego, há um particularmente curioso. O argumento de que o Governo
Grego é jovem, inexperiente e desconhecedor da “linguagem” europeia. Pois ainda
bem que o é! O que temem dos novos Governos é que tenham uma visão própria e
não se acomodem ao “consenso” tecnocrata que tem conduzido a Europa a uma
decadência relativa brutal.
A maior qualidade do novo
Governo Grego é a sua inexperiência. Lamento o sentido populista dalgumas das
suas medidas e a coligação com os radicais de direita, mas gosto da visão fresca
e transformadora com que desafiaram o destino.
A Europa precisa de pioneiros com vontade de arriscar. De governantes
com um brilho nos olhos. Um brilho que jamais perscrutei nos governos de
direita que nos conduziram à margem do precipício. Gente fria, cinzenta, metálica,
impenetrável ao sofrimento alheio, fizeram do bloco europeu o que mais se
ajoelhou à crise global despoletada pelo “sub-prime”. Gente experiente, é
certo. Tão experiente, que as experiências fraudulentas dos impérios
financeiros e da fuga fiscal generalizada se repetiram como as badaladas de um
sino por todos os territórios por eles governados.
Gente experiente mas formatada
pelo cifrão e não pelo coração. Para gente desta, antes os inexperientes e
sonhadores. Precisamos na União Europeia de um recomeço ético e moral. De um
“reset” como diriam os mais habituados a ligar com os computadores, para
incluir novos valores e atualizar as práticas estratégicas e operativas.
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