Conectados (Mas Pobres)
2016/12/26 16:25
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Era um princípio de
noite numa estrada de trânsito caótico numa das saídas de Nairobi (Capital do
Quénia). De repente os meus olhos pousaram numa carrinha de nove lugares que
avançava lentamente, aos tropeções, lado a lado com o autocarro um pouco maior
em que eu seguia com uma delegação de Eurodeputados em visita oficial àquele
País do corno de África.
Dentro da pequena
carrinha parecia-me ver mais gente do que a que supostamente era a sua lotação.
Algo normal naquelas paragens. Mas desta vez a minha perceção pôde ser
verificada mesmo no escuro da noite. É que na carrinha, pela minha contagem,
seguiam pelo menos 13 telemóveis com os visores ligados, o que significa que
estariam 14 pessoas na carrinha, exceto se alguém além do motorista não fosse
ao telemóvel ou se algum passageiro estivesse a usar dois em simultâneo.
Ao longo dos dias que
estive em Nairobi apercebi-me que numa cidade dinâmica e com grandes diferenças
sociais, havia uma coisa que unia toda a gente; o telemóvel. Todas ou quase
todas as pessoas que passavam por mim, mesmo alguns com roupas velhas e
rasgadas e ar esquálido, tinham consigo o seu telemóvel.
Os anúncios nos enormes
cartazes citadinos, nas pinturas dos autocarros ou nos separadores das estradas
eram em larga medida focados nos equipamentos moveis, nos sistemas de acesso à
banda larga ou novas aplicações para o seu uso, designadamente para pagamentos
eletrónicos, acesso a contas bancárias ou a entretenimento variado.
Numa população global
de cerca de 45 milhões de pessoas, estudos recentes apontam para que 20 milhões
de quenianos acedam regularmente à internet através do Telemóvel. Programas de
expansão para o acesso das populações rurais estão na primeira linha das
prioridades do governo.
Não obstante a explosão
digital, o Quénia é um país pobre. Mais de metade da população em idade adulta
acede à internet ao mesmo tempo que também mais de metade da população vive
abaixo da linha de pobreza. Não serão os mesmos, mas em parte coincidirão. O país é o 128º no índice de desenvolvimento
Humano da ONU.
Como cidadão empenhado
no desenvolvimento duma sociedade digital inclusiva e agora relator da
iniciativa europeia que visa tornar o acesso à Internet universal, o que vi no
Quénia reforçou ainda mais a minha ideia de que aceder à rede é importante, mas
o decisivo é o conhecimento com que se acede e os serviços disponíveis.
A conexão é uma nova
plataforma para a sociedade e a economia do século XXI. Um ponto de partida e não um ponto de
chegada. Um novo desafio para as políticas públicas progressistas no século
XXI.
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