Alta Voltagem
Nas últimas semanas a União Europeia, com Portugal incluído, foi assolada por um aumento brutal do preço da energia, com reflexos sobretudo nos preços da eletricidade fornecida às famílias e às empresas.
A União Europeia continua a ser dependente em termos de abastecimento energético externo, o que gera aliás um conhecido e cada vez mais preocupante problema de segurança e de autonomia estratégica. Essa dependência, associada ao aumento da procura mundial de energia, em particular do gás, em resultado da recuperação económica e do acelerar indispensável da aplicação dos mecanismos de incentivo à descarbonização, gerou um inopinado pico nos preços, ao qual a União procura agora reagir de forma sistémica.
O governo português foi célere a responder ao choque de alta voltagem, recorrendo aos excedentes disponíveis do fundo ambiental para mitigar o impacto e combater a pobreza energética através do congelamento das tarifas reguladas, da aplicação da tarifa social e da redução dos custos de acesso para os consumidores industriais. Fez bem. Não se pode tomar a nuvem por Juno nem perder por inação um combate civilizacional.
No passado, os preços relativamente elevados da eletricidade em Portugal eram em larga medida justificados pelos incentivos dados à aposta nas energias renováveis. Uma aposta ganha em toda a linha. Hoje as energias renováveis são disponibilizadas no mercado a um preço inferior aos combustíveis fósseis.
Os operadores do mercado global do gás sabem, contudo, que têm um trunfo forte para jogar e têm-no feito sem pudor, quer por motivações de maximização dos lucros, quer por interesses no puzzle geopolítico. A intermitência na disponibilidade das energias renováveis e as dificuldades no seu armazenamento e fazem do Gás (ou do carvão) combustíveis necessários para assegurar a estabilidade dos sistemas elétricos.
Nesta crónica que pretendo descomplicada, o que é sempre difícil quando se trata deste tema, quero sobretudo partilhar uma mensagem. Este não é o tempo de desistir da aposta nas energias renováveis e na descarbonização, mas face às dores da transição são precisas respostas eficazes.
Defendo uma alteração dos mecanismos de regulação do mercado que favoreça as energias renováveis e os sistemas distribuídos, um forte investimento nas baterias, no hidrogénio verde e em tudo o que ajudar a tornar as energias renováveis “armazenáveis” e mais interconexões para que haja um verdadeiro mercado único da energia. Precisamos de muita energia, para que a energia seja um recurso sustentável e acessível a quem dela precisa.