Matrix (O homem e a máquina)
2016/04/30 17:36
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Já atingiu a idade da adolescência a famosa trilogia cinematográfica
que tinha como enredo central a luta entre o Homem e a Máquina, assumindo esta
o poder de estar conectada em rede e de ter adquirido a capacidade de
“aprender” usando os algoritmos da inteligência artificial. Como acabará a
“luta” entre máquinas cada vez mais em conexão e seres humanos cada vez mais
sós na sua relação entre si e ligados também eles às máquinas da informação e das
redes sociais? Esta é uma questão chave da modernidade.
A recente vitória de uma máquina (AlphaGO) sobre Lee Sedol, um Sul
Coreano reconhecido como o melhor jogador de “Go” do mundo (um jogo de lógica
combinatória) por 3-1 é um sinal de grande importância. As máquinas podem
aprender. Aprendem connosco, mas aprendem o melhor e o pior que há em nós. O
AlphaGo aprendeu o suficiente para vencer 3 vezes consecutivas Seedol, mas à
quarta partida este percebeu a lógica da máquina e deu um salto em frente, vencendo-a.
Passemos esta história para o quotidiano. O desenvolvimento das
capacidades de captura, armazenamento e interpretação com recursos a algoritmos
dinâmicos de inteligência artificial de quantidades cada vez maiores de dados
está a evoluir de uma forma geométrica.
Essa evolução quebra barreiras legais e territoriais e abre portas a
novos modelos de funcionamento da economia, que serão bons ou maus em função da
matriz ética que a eles presidir. Esta matriz ética é função da política, na
sua asserção nobre de representação do bem comum e do interesse público.
A expressão brutal do poder das máquinas aplicada a novos modelos de
negócio coincide com um momento de grande descrédito em relação à função
reguladora da política. Esta dicotomia é muito preocupante. A credibilidade dos
políticos não populistas e capazes por isso de não responder à emoção das
massas, mas à razão do interesse comum num determinado quadro ideológico, está
de rastos.
Em muitos casos a razão da perda
de credibilidade dos políticos prende-se com comportamentos corruptos e de
abuso de poder em relação aos quais nenhum relativismo faz sentido. São
deploráveis e absolutamente condenáveis.
Noutros casos contudo, a erosão da credibilidade política tem outros
fundamentos. Exige-se num mundo em mudança permanente, que os políticos assumam
compromissos sem terem a possibilidade de controlar o contexto em que vão ter
que os cumprir. Se Lee Sedol continuasse a jogar sempre da mesma forma
continuaria sempre a perder com AlphaGO. A aposta de Lee Sedol não foi ganhar
ao computador seguindo a mesma estratégia, mas alterar a estratégia o
necessário para atingir o objetivo maior de vencer a máquina.
Neste contexto, considero que faz cada vez menos sentido os Partidos
Políticos concorrerem com programas detalhados de ação. O contexto da ação vai
mudar e manter o programa não fará sentido. O que faz sentido é concorrer em
nome duma matriz de princípios e validar a sua aplicação em permanente
interação com os eleitores.
Só assim a humanidade poderá ganhar o jogo. Não o jogo de “Go”, mas o
jogo contra os que usam as pessoas e o planeta para exacerbar o seu poder
discricionário, destruindo o sonho legítimo de um mundo melhor para todos.
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