O Povo é que paga (corrupção e financiamento da política)
2017/09/23 10:30
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O Povo é que paga
Desde que a humanidade se sedentarizou e pouco a pouco se foi organizando em comunidades mais ou menos sofisticadas, necessitando de coordenação e de quem disso se ocupe, que emergiu a necessidade de gestão da polis (ou seja da política) e de indivíduos que na comunidade são eleitos, designados ou se impõem pela força ou qualquer outro método para exercer essa gestão. Quem paga os que asseguram o funcionamento da “polis” de uma forma ou de outra, é sempre o povo. A forma como esse pagamento é feito tem cada vez mais importância num mundo corroído por desconfianças, práticas de corrupção e desapego às causas públicas.
Nos regimes autoritários o povo paga a política e paga mais do que isso se se atrever a contestar. Nos regimes democráticos, que sendo um regime imperfeito, é de longe o melhor que se conhece, a forma como o povo paga a democracia e como é ressarcido desse pagamento, é um tema central dos dias de hoje e é sobre ele que escreverei brevemente nesta crónica.
Nas oportunidades em que debato com jovens e menos jovens as questões da transparência na política, costumo começar por perguntar quem concorda com o financiamento público da atividade dos Partidos Políticos reconhecidos e legalizados. A taxa de respostas positivas é sempre muito baixa. Uma opinião que tende a mudar no entanto, quando no final das minhas conversas, volto a colocar a questão.
Vivemos tempos muito difíceis para a democracia. A perceção de que os regimes políticos estão corroídos pelo tráfico de influências em maior ou menor escala tornou-se um veneno que atinge os culpados e os inocentes.
Contudo, e é isso que procuro explicar com exemplos concretos quando sou chamado a falar sobre estes temas, quando tentamos perceber a racionalidade estranha de muitas decisões de grandes responsáveis no mundo global, a pista leva-nos invariavelmente à constatação de que essas decisões são as que interessam, não ao povo que os elegeu (quando são democracias), mas aos interesses que lhes financiaram as campanhas eleitorais e lhe permitiram chegar aos lugares de decisão.
Nas duas Assembleias Interparlamentares que integro; União Europeia - África Caraíbas e Pacífico (UE/ACP) e Euro - Latino Americana (EUROLAT) o tema do financiamento da política em geral e dos partidos políticos em particular tem estado na primeira linha do debate. Todas as evidências vão no sentido de concluir que o financiamento público dos Partidos Políticos, associado a um controlo credível das suas contas, é o melhor antídoto contra fenómenos de descredibilização geral da democracia, muitas vezes seguida de violência e da imposição de ditaduras igualmente corruptas embora protegidas do escrutínio.
As sociedades têm necessidade de serem governadas e isso tem um custo. Um custo creditado aos povos. A minha experiência, certamente polémica junto de muitos dos que me leem, diz-me que o financiamento público da política em democracia, não resolve tudo, mas é um passo de gigante para que o povo pague menos e acabe melhor servido por quem os representa.
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