Portugal e o Plano Tecnológico Europeu - Um Governo em Marcha atrás
2014/08/24 10:42
| Malha Larga
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Artigo publicado no diário Público de 19 de Agosto
A União Europeia é hoje uma caricatura disforme do espaço de liberdade,
cidadania, cooperação solidária, sustentabilidade social e ambiental e
liderança competitiva com que sonhámos e nos comprometemos ao longo de décadas
e em particular desde 2000 na Estratégia de Lisboa para o Crescimento e
Emprego, agora designada por Estratégia 2020.
Uma União Política forte que combine os pilares da União Económica e
Monetária com a prioridade ao Crescimento e ao Emprego, dando músculo às
instituições comuns e ao Orçamento da União, é não apenas a vereda pela qual a
União Europeia pode recuperar a confiança dos povos europeus, como constitui
também um contributo indispensável para uma globalização regulada e centrada
nas pessoas, na sua dignidade e na sua felicidade.
No meio dos destroços, em vez de desesperarmos, temos a obrigação de
encontrar com lucidez as boias de salvação e manter acesa a chama de que anda é
possível reconstruir o projeto europeu e levá-lo a bom porto.
É no meio das dificuldades que se determinam as convicções. Os que
estiveram com o projeto europeu apenas porque ele era um caminho fácil de
prosperidade relativa são agora os primeiros a descolar, propondo para Portugal
ou o abandono do Euro (sem quantificar o efeito trágico que teria no
empobrecimento geral e no aumento das desigualdades sociais no País) ou o
incumprimento unilateral de obrigações, cujo efeito final seria similar.
Descolar desta forma de ser Europa, para que a União Europeia quebre as
amarras que a estão asfixiar é uma prioridade, mas descolar não é fugir ou
fazer implodir o projeto europeu como propõem algumas forças mais demagógicas e
muito menos é ficar para trás como está a fazer o Governo Português.
A descolagem que o Governo Português está a fazer do projeto europeu é
trágica. Agarrado como uma lapa à Europa dos mercados financeiros, o governo
não tem pejo em descolar da europa do conhecimento, para poupar uns Euros (numa
interpretação benévola), ou para se tentar perpetuar no poder através da
desvitalização do País.
Portugal receberá nos próximos anos 21 mil milhões de Euros do Acordo
de Parceria focado na qualificação e na competitividade, poderá aceder a 80 mil
milhões de Euros do Programa Horizonte 2020 que aposta na transferência de
conhecimento entre os centros de saber e as empresas e sabe que Jean Claude
Juncker incluiu no seu Programa para a Presidência da Comissão Europeia um
“Plano Tecnológico Europeu” que vai mobilizar 300 mil milhões de Euros para apoiar
um novo modelo de inovação limpa, novas energias e reindustrialização da
Europa.
Seria por isso de esperar que o Governo estivesse empenhado e a
mobilizar a sociedade civil para esta oportunidade, investindo no reforço dos
centros produtores de conhecimento e nas estruturas que permitem a sua
interação com o tecido empresarial, criando valor e emprego.
As notícias que nos chegam negam tudo isso. Centros de investigação
inviabilizados e cortes cegos no Ensino Superior são a demonstração que o
Governo não percebeu a oportunidade e arranca para este desafio em marcha
atrás.
Uma má noticia a somar a muitas outras com que o Governo nos tem
brindado nas últimas semanas, perdido que anda pela ausência da âncora da
Troica e do programa de ajustamento, afinal a única referência operativa a que
se agarrou no seu mandato.
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