Simples e Concreto
A realidade nunca foi tão complexa, acelerada, em rede, sem fronteiras demarcadas, nem físicas, nem digitais nem mesmo entre domínios do conhecimento. Face à complexidade muitos têm a tentação, a que eu muitas vezes também não consigo escapar, de elaborarem respostas igualmente complexas, teoricamente robustas, mas difíceis de entender pelas pessoas e de serem transformadas em soluções viáveis e rápidas para os seus problemas.
O mundo da complexidade é um maná para os populistas, porque a eles nunca são pedidas soluções. O seu discurso é simples e direto. A culpa é sempre dos outros e a solução é darem-lhes o poder. É certo que nalguns países em que isso sucedeu os populistas revelaram ou vão revelando com grande estrondo a sua incapacidade, mas como se dizem ao mesmo tempo nacionalistas, usam isso como capa para disfarçar as evidências.
Os democratas têm uma tarefa mais difícil. Não podem nem devem negar que hoje as questões sociais estão fortemente ligadas às questões climáticas e às questões digitais por exemplo. Mas reconhecendo isto, o que precisam fazer é tirar as consequências e aplicar respostas em domínios como a saúde, a educação, a proteção e a segurança, a qualificação e a organização do trabalho e em tudo o que permita reduzir asdesigualdades, de forma a que as pessoas que representam sintam essas medidas como boas para o seu dia a dia e para tornar a sociedade melhor.
Tal como não há uma complexidade absoluta ou uma verdade absoluta, também não existem respostas simples e concretas universais. É aqui que entra a riqueza da democracia representativa plural. As forças políticas em função do seu ideário e programa e de forma mais ou menos participada, têm a obrigação de propor as soluções e os cidadãos de fazerem a sua escolha.
Se a escolha for feita com base em propostas concretas e escrutináveis, a saúde da democracia fica mais protegida do que se for baseada apenas nas inevitáveis emoções, nos sentimentos imediatos de adesão ou rejeição, nas lógicas de fação ou noutros ingredientes que ajudam a fraturar a sociedade, a criar gás para os discursos de ódio e a gerar dificuldades ou desculpas para que não seja feito aquilo que os cidadãos ambicionam.
Para que esta forma de agir seja viável e consistente, é preciso mais um ingrediente. Os cidadãos têm que ser também informados de forma simples e concreta dos recursos que existem, das alternativas de aplicação e dos impactos esperados, para que a sua escolha seja informada e transparente.