Soares é Fixe (Uma Homenagem)
2017/01/07 16:02
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
| Link permanente
Nota Prévia: Este texto será publicado na minha coluna semanal do Diário do Sul de segunda -feira e foi escrito dia 4 de janeiro. A morte de Mário Soares não lhe retira atualidade. Divulgo-o aqui como uma sentida homenagem.
Escrevo este texto num
momento em que Soares ainda está entre nós, em coma profundo, mas com todas as
funções vitais, segundo o boletim clinico oficial. Está entre nós fisicamente,
mas já não em consciência, como referiu de forma emocional o seu sobrinho Eduardo
Barroso.
O homem poderá
regressar à consciência ou partir, mas aquilo que significou e significa Mário
Soares para Portugal e para o mundo jamais se apagará do coração de muitas
portuguesas e de muitos portugueses e dos registos mais brilhantes da História
de Portugal, da Europa e do Mundo.
Irreverente, lutador,
determinado e com valores e princípios sólidos, Soares afirmou-se como o grande
líder político da segunda República. O 25 de Abril foi obra de muita gente, mas
Soares deu-lhe um contributo impar, ao denunciar com coragem a ditadura, ao
percorrer o mundo em busca de apoio para o novo regime e ao defendê-lo das
tentações totalitárias que o ameaçaram.
Nem sempre concordei
com as posições de Mário Soares, mas mereceram-me sempre um enorme respeito.
Não estivemos do mesmo lado no combate presidencial Eanes / Soares Carneiro em
dezembro de 1980, nem no referendo sobre a regionalização em novembro de 1988,
mas em tudo o mais no seu percurso político, partilhei a mesma visão e o mesmo
sonho de Soares, com momentos de maior ou menor proximidade tática e
operacional, como é próprio da convivência num grande partido democrático como
é o Partido Socialista (PS).
Jamais esquecerei o dia
25 de Abril de 1975, em que o povo como uma alegria imensa consolidou nas urnas
um modelo de democracia pluralista e atribuiu a primeira grande vitória
democrática após 48 anos de ditadura, ao PS e a Mário Soares.
Recordo ainda com
comoção a vitória de Mário Soares na segunda volta das Presidenciais, em que
defrontou e venceu Freitas do Amaral no dia 16 de fevereiro de 1986, como um
dos momentos mais felizes e entusiasmantes da minha participação cívica e
política. Durante toda a campanha e nessa noite em particular gritei como
muitos milhares de outros amigos que Soares era fixe.
Nenhum homem é
perfeito, mas enquanto agente cívico e político Soares sempre foi fixe e sempre
será fixe na memória de quem com ele travou as duras batalhas pela liberdade,
pela igualdade e pela solidariedade em Portugal, na Europa e no Mundo.
No momento em que
finalizo este texto Soares luta entre a vida e a morte. A sua vida, contudo,
aconteça o que acontecer, já está gravada a letras de ouro na nossa história e
na nossa memória. Soares é fixe.
Comentários