Alqueva - As lições do grande lago
2017/06/04 10:10
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A construção do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva foi uma das causas mais marcantes da minha vida política e cívica. Desde que me recordo de estar ativo na política defendi o projeto. Entre 1997 e 1999 presidi ao PROALENTEJO – Programa de Desenvolvimento Integrado do Alqueva que englobava o Programa Específico de Desenvolvimento Integrado da Zona do Alqueva (PEDIZA), motor financeiro com mais de 1000 milhões de Euros que permitiu construir a Barragem e tornar irreversível o empreendimento.
Hoje, mais de vinte anos passados sobre a corajosa decisão de construir o maior lago artificial da Europa, e de quinze anos sobre o fecho das comportas, começa a gerar-se um consenso benigno sobre a oportunidade da decisão e o seu impacto positivo.
Na altura, contudo, o empreendimento tinha acérrimos detractores. Todos foram escutados, mas a decisão foi tomada. Ainda bem para a nossa região e para o nosso País. Fazer política é ter a coragem de avançar em nome das convicções e contra os medos ou os interesses instalados.
Foi assim com António Guterres, João Cravinho e muitos outros (alentejanos que os alentejanos bem conhecem) no caso do Alqueva. Pena foi que outras obras estruturantes, como o novo aeroporto ou a ligação ferroviária Sines – Europa não tenham avançado na altura como Alqueva avançou. São infraestruturas que nos fazem cada vez mais falta e que se já estivessem construídas, ajudariam ainda mais a recuperação económica a que estamos a assistir.
Uma reportagem publicada recentemente pelo Jornal Semanário Expresso, e intitulada “Afinal, o Alquevavaleu a pena”, o autor constata que “a água de Alqueva mudou a paisagem, a forma de trabalhar a terra e a prática de gestão”, concluindo que “ o Alentejo nunca esteve tão internacional”. A suportar esta afirmação estava a demonstração de que os mais de 120 000 hectares já regados pelo sistema de Alqueva mudaram a atividade agrícola, geraram oportunidades de oferta de lazer e turismo e proporcionaram a atração de fornecedores de serviços que vão pouco a pouco enchendo os parques industriais da região e criando emprego e riqueza.
Hoje o Alqueva já mobilizou mais de 2400 milhões de euros de investimento, produz energia, fornece água para consumo humano e “rega” o desenvolvimento sustentável do Alentejo, combinando agricultura, pecuária, turismo e bem-estar. Ainda bem que alguns tiveram a coragem de decidir e arriscar. O grande lago ensina-nos que dos que não arriscam escolher, não rezará a história nem aproveitará o futuro.
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