A Raposa no Galinheiro
2014/09/11 10:03
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Por pura intuição, talvez
motivada pelo empenho que sempre tenho posto no desenvolvimento da
Investigação, da Ciência e da Inovação, desde há muito que acreditava que
Portugal acabaria por ficar com essa pasta no Colégio de Comissários da União
Europeia, sobretudo se não apostasse, como não apostou, numa solução forte para
a coordenação económica.
O trabalho feito nesse domínio pelo nosso País
entre 2005 e 2010 ainda nos associa ao que de melhor foi feito na Europa neste
domínio e o nosso Plano Tecnológico continua a ser inspirador, como se pode ver
pelo programa de candidatura de Jean Paul Juncker perante o Parlamento Europeu.
O brutal retrocesso recente, que os investigadores e os empreendedores já
sentem na pele, só se reflectirá em todo o seu horror estatístico daqui a
alguns anos, e por isso ainda não nos inibe nas instituições europeias.
A forma como se chegou a
este "portfólio" é longa e não é bonita. Neste texto não me vou no
entanto centrar nela. A realidade é a que é. O Comissário português é Carlos
Moedas e a sua pasta é a Investigação, Ciência e Inovação, com uma ligação
quase directa à gestão do Programa Horizonte 2020 dotado com um pacote
financeiro de 80mil milhões de Euros até 2020.
O sucesso de Moedas é importante
para a Europa e para Portugal. Não sendo um especialista, poderá dotar-se das
assessorais necessárias para fazer um bom desempenho. No entanto se ousar
aplicar nesta função a ideologia do empobrecimento regenerador que aplicou no
governo português tornar-se-á rapidamente irrelevante. Não me parece ser esse o
" plano" de Carlos Moedas.
Acredito por isso que o
nosso Comissário poderá realizar um trabalho importante para a Europa. Sendo o
único Deputado português efectivo na Comissão do Parlamento Europeu que segue
as áreas do nosso Comissário (Comissão ITRE) colaborarei com ele de espírito
aberto e positivo.
Uma das premissas da função
de Comissário Europeu é a sua independência em relação aos Estados Membros de
que são oriundos. No entanto, a experiência mostra que os bons Comissários são
sempre e antes de mais reconhecidos no seu País. Veja-se o exemplo de António
Vitorino, o melhor Comissário que Portugal já teve, e no sentido contrário, o
desastre do segundo mandato de Durão Barroso que o impede agora de ser desejado
como futuro Presidente da República, mesmo na sua área política.
Ora o grande problema de
Moedas é que com a sua ajuda e eventual aplauso, ele tem em Portugal a raposa
no galinheiro. Crato está a destruir minuciosamente as bases do potencial
sucesso do Horizonte 2020 em Portugal, ao cortar o investimento na Ciência, "exportar"
os melhores investigadores, asfixiar as Universidades e os Politécnicos e
destruir os sonhos dos empreendedores tecnológicos.
Sem uma rede nacional de
excelência não há Comissário que nos possa ajudar. Quem diria a Moedas quando
aplaudiu Crato por ser o maior "amigo" de Gaspar e Luis, que estava a
fazer de urze a cama onde agora se vai deitar. É preciso tirar a raposa do
galinheiro e depressa ou não teremos galinhas, gordas ou magras, para por os
ovos do futuro.
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