Português
Lentamente a nossa vida vai dando passos em que é possível o regresso a práticas que a pandemia bloqueou. Recentemente aceitei um convite para um pequeno jantar presencial em Bruxelas, ainda que realizado com todas as regras de controlo de vacinação, espaço e arejamento, em que o objetivo era uma troca de pontos de vista informal entre Eurodeputados, Organizações Não Governamentais e Associações Industriais sobre os desafios da sustentabilidade global no horizonte de 2030.
Verifiquei na lista que era o único português no grupo e preparei-me para puxar pelas forças sobrantes de um dia longo e aproveitar a possibilidade de interagir em inglês, ou com um pouco de sorte em francês, com o colegas mais próximos. Ao meu lado ficou um dinamarquês que surpreendentemente, quando nos apresentámos me disse que podia entender-me em português, porque tinha estado alguns anos no Brasil e falava brasileiro.
Expliquei-lhe que não havia uma língua reconhecida designada por brasileiro. Havia sim um português falado no Brasil, que tinha naturais diferenças do português falado em Portugal, em Angola, em Moçambique, em Cabo-Verde, na Guiné-Bissau, em Timor e em tantos outros lugares em que existem comunidades portuguesas inseridas. Contei-lhe histórias e lendas sobre as diferentes fonéticas e descrevi-lhe os debates e as diferentes posições sobre o acordo ortográfico.
O meu interlocutor era versado no mundo lusófono e embora a conversa não tivesse sido muito longa, porque não era aquele o tema que ali nos tinha levado alertou-me para a prioridade que deve ser a defesa inteligente da nossa língua, enquanto património comum de mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo.
Num mundo global e cada vez mais em rede, o Português não é apenas um pilar chave da nossa identidade enquanto Nação, como é também um elemento que reforça o nosso ADN de País aberto ás sete partidas do mundo e desde logo à Comunidade de Povos de Língua Oficial Portuguesa. A nossa língua será tanto mais importante como património e identidade quanto reconhecermos que somos a nação onde o português nasceu, mas não somos os seus donos.
O Português cresce e evolui como língua viva em todos os espaços e territórios em que é falado. Soma vocabulário na sua interação com os outros idiomas. Tem diferentes fonéticas e variantes ortográficas, mas é português onde quer que se fale. Sempre diferente, sempre igual