Vaga
Está aí a quinta vaga da pandemia. Este vírus já nos ensinou a desconfiar das previsões sobre a sua evolução e impacto, mas todos os indicadores refletem uma correlação muito positiva entre a vacinação e a redução dos efeitos da contaminação.
Houve um tempo em que nos muitos contactos diários que faço com gente de todo o mundo, no exercício das minhas funções, muitos me falavam de Ronaldo ou de Guterres quando se apercebiam que eu era português. Nos últimos tempos é sobretudo pelo nosso enorme sucesso na vacinação que me congratulam.
Agradeço sempre explicando que confluíram para esse sucesso relativo vários fatores, designadamente a vontade política das autoridades em todos os patamares, a qualidade e empenho dos profissionais e a enorme maturidade cívica do nosso povo. Uma maturidade de que vamos continuar a precisar muito para enfrentar a nova vaga.
Temos razões de júbilo pela taxa de vacinação que atingimos e também pela taxa média atingida na União Europeia. Também o certificado de vacinação se tem revelado um importante instrumento para mitigar os efeitos sanitários e económicos da pandemia.
Dito isto, e sem perder o foco no combate ao vírus no nosso território, não podemos deixar de olhar também para o que está a acontecer no mundo e trabalhar para que a vacina e outra medicamentação entretanto aprovada e em vias de ser disponibilizada cheguem aos Países mais pobres e aos povos mais desfavorecidos.
O esforço da União Europeia e de outras potências globais neste domínio, tem vindo a aumentar, mas é ainda manifestamente insuficiente. Muitos países têm ainda taxas de vacinação de um dígito e alguns nem 1% da sua população têm vacinada no momento em que escrevo este texto.
Agir por uma primeira vaga de vacinação global generalizada é um imperativo de consciência e de sentido humanitário. Mas é mais do que isso. Enquanto não estivermos todos seguros em relação a este insidioso vírus e às suas múltiplas variantes, ninguém estará seguro.
Por convicção pessoal, mas também pelas funções que desempenho, tenho-me batido para que as vacinas sejam um bem público comum e globalmente acessível. Para isso é preciso partilhar mais do que doses para inocular. O peixe é necessário, mas ensinar a pescar é a chave.
Diversificar competências e capacidade de produção e distribuição de vacinas por todo o globo, investindo na componente sistémica e pedagógica necessária para que elas cheguem às pessoas, pode fazer duma forte ameaça à humanidade, um catalisador de esforços para a tornar mais forte, resiliente e justa na resposta imediata e na preparação para enfrentar riscos futuros.