A morte (prematura) dos Governos Civis
No meio de uma tempestade quase perfeita, em que a pandemia ainda não partiu, as alterações climáticas se fazem sentir entre secas e enxurradas e os efeitos colaterais da guerra pressionam os preços e fomentam a escassez, dispormos de recursos significativos para investir, designadamente os recursos que resultam da finalização do programa Portugal 2020, do arranque do programa Portugal 2030 e da concretização do Programa de Recuperação e Resiliência, é uma vantagem que não podemos desperdiçar.
Num cenário de grande volatilidade são fundamentais um apurado planeamento e uma boa integração dos projetos, para otimizarmos as capacidades e competências que temos para a sua formulação e depois para a sua execução e exploração. Os tempos que se aproximam serão muito desafiantes para todas as entidades, públicas e privadas, que serão chamadas a pôr em prática as diversas agendas e programas.
É preciso reforçar o tecido capilar das relações de cooperação de proximidade,combinado com os diferentes patamares territoriais, designadamente as juntas de freguesia, os distritos, as regiões e o País no seu todo. A capacidade operativa desta malha de reposta integrada, implica obviamente que estejam abertos e ativos os canais de comunicação entre os diferentes níveis.
Os muitos contactos que tenho mantido com representantes dos diversos atores da grande “frente de obra” que todos temos que empreender para resistir e dar a volta por cima, dando-me consciência da dimensão do que está em jogo, alertaram-me também para algumas prioridades. É preciso dotar as diversas estruturas de gestão dos programas de mais especialistas com as capacidades técnicas adequadas para a analisar, acompanhar e impulsionar com rapidez os projetos e os investimentos e estabelecer rotinas de interação e de comunicação entre os diversos níveis, incluindo o poder central.
Não será tarefa fácil. À mingua da Regionalização e com a morte prematura e demagógica dos Governos Civis, que durante décadas foram peças chave de concertação e acesso às estruturas centrais, é preciso encontrar estratégias alternativas.
Para vencer o grande desafio de resistência e desenvolvimento com que estamos confrontados, a melhor solução seria regionalizar depressa, mas não havendo sinais de que isso seja possível, é preciso criar com urgência estruturas de missão de integração estratégica no território, empoderando e reforçando as instituições existentes Não vale a pena chorar sobre leite derramado.