Censura (Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele)



Há pouco mais de um ano uma moção de censura alegremente apresentada pelo Bloco de Esquerda inaugurou o processo que escancarou as portas do Governo à maioria que hoje diariamente flagela muitos dos seus eleitores.


Passado um ano, num momento muito difícil para o Governo e quando o PS tenta incluir na agenda da governação a defesa dos interesses nacionais e europeus na próxima cimeira Europeia foi o PCP que tirou da cartola a sua censura.


São direitos regimentais e democráticos absolutamente legítimos. Pena que sejam instrumentos cada vez mais deflagrados para destruir as pontes entre a esquerda deixando incólume e confortável a maioria de direita a que apenas teoricamente se destinam.


Todas as pessoas do centro e da esquerda com sensibilidade social censuram este governo pela forma como não tem sabido associar a consolidação das contas públicas à preservação da matriz do Estado Social e ao impulso à economia de nova geração criadora de empregos sofisticados e qualificados.


Censurar o governo é confrontá-lo com alternativas viáveis e melhores. Não pode deixar de causar admiração que Jerónimo de Sousa na conferência de imprensa em que justificou a moção tenha atacado muito mais o PS do que a coligação CDS / PSD que está aparentemente sobre censura.


Poderia escrever aqui que o PCP se enganou no adversário. Estaria contudo a ser cínico. Eu sei que não se enganou. A moção de censura que dia 25 se discute no Parlamento é uma ultrapassagem ao Bloco de Esquerda e uma tentativa de criar divisões no PS.


Uma tentativa votada ao fracasso. Um fracasso com efeitos colaterais. É uma cortina de fumo para a maioria se eximir das suas responsabilidades e tentar fazer esquecer que aprovou uma resolução exigente para enquadrar a posição portuguesa na evolução que a Europa sofrerá nas próximas semanas.


Cabe a cada um de nós evitar o contágio da fumaça. Esta moção de censura do PCP é só fumaça mas a realidade precisa de muito mais do que isso. Precisa de factos, de ações e de medidas concretas. Precisa de quem se bata por elas com determinação. Precisa de quem coloque o interesse nacional acima do interesse partidário.

O PCP parece ter lido demasiadas vezes a história do Pedro e do Lobo. Mas quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.

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