Invocação de Tomé (e de Tomás)
2010/12/04 08:09
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
| Link permanente
Diz-se que Tomé quis ver o Senhor para acreditar na sua ressurreição e que Tomás era melhor no verbo do que na acção. É por ver no nosso País tantos seguidores de Tomás que o decidi invocar, a ele e a Tomé, nesta crónica.
Acredito cada vez mais na ressurreição do Senhor, respeitando as múltiplas leituras desta crença simbólica, mas acredito cada vez menos nos profetas da desgraça económica e social que falam em catadupa do que talvez saibam, mas não sentem nem imaginam vir a sentir.
Vivemos um tempo em que muitos preconizam com insustentável leveza a adopção de medidas duras, cortes profundos e restrições dolorosas na disponibilização de rendimentos às famílias. Falam da necessidade de ajustar os nossos rendimentos e as nossas vidas à produtividade do País e de diminuir a despesa para garantir a competitividade da economia.
Falam como Tomás falava e como ele falam bem. Mas praticam? A maioria dos que conheço não pratica. Noto aliás uma curiosa relação inversa. Quanto mais rico e afortunado é o “Tomás”, mais duro e disruptivo é o seu discurso e arrojadas são as suas propostas. Não há corte mais suave que aquele que só afecta os outros.
Aplica-se aqui a teoria do distanciamento ou da não inscrição. Quanto mais o indivíduo de fraco carácter pensa que o que diz não o afecta negativamente, mais disponível está para o dizer. É por isso que é tão importante distinguir os duros na palavra dos duros na acção.
Habituei-me nas representações dos meus heróis de juventude a ver que os duros não eram os que propunham coisas difíceis, mas os que as faziam, davam o exemplo e exaltavam as multidões para juntos vencerem os obstáculos e ultrapassarem as dificuldades.
Sei que muitos dos sacrifícios que nos são pedidos são necessários e têm que ser feitos em nome dum futuro melhor. Pertenço com orgulho a um Governo que tudo fez e continua a fazer para enfrentar os desafios da crise com sensibilidade social num contexto adverso de forte maioria neoliberal na governação europeia e de consequente pressão dos mercados para a desregulação e para uma política de “salve-se quem puder”.
Mas não consigo deixar de me indignar quando oiço ou vejo gente com rendimentos cheios de zeros à direita a teorizar sobre a necessidade de reduzir rendimentos de famílias que dispõem de pouco mais de 100 euros por pessoa para sobreviver.
Podem ter razão em abstracto, mas a vida vive-se no concreto e no concreto ainda não vi nenhum dos “duros” assumir a vontade de reduzir o seu próprio rendimento, doar as maquias que cobram para espalhar o pessimismo e a desesperança às vítimas das suas profecias, arregaçar as mangas para lutar contra o fatalismo e propor uma atitude de querer para ver!
Uma atitude que não tinha Tomás nem teve Tomé, mas que é aquela que nos pode salvar no momento difícil que vivemos como povo e como País.
Acredito cada vez mais na ressurreição do Senhor, respeitando as múltiplas leituras desta crença simbólica, mas acredito cada vez menos nos profetas da desgraça económica e social que falam em catadupa do que talvez saibam, mas não sentem nem imaginam vir a sentir.
Vivemos um tempo em que muitos preconizam com insustentável leveza a adopção de medidas duras, cortes profundos e restrições dolorosas na disponibilização de rendimentos às famílias. Falam da necessidade de ajustar os nossos rendimentos e as nossas vidas à produtividade do País e de diminuir a despesa para garantir a competitividade da economia.
Falam como Tomás falava e como ele falam bem. Mas praticam? A maioria dos que conheço não pratica. Noto aliás uma curiosa relação inversa. Quanto mais rico e afortunado é o “Tomás”, mais duro e disruptivo é o seu discurso e arrojadas são as suas propostas. Não há corte mais suave que aquele que só afecta os outros.
Aplica-se aqui a teoria do distanciamento ou da não inscrição. Quanto mais o indivíduo de fraco carácter pensa que o que diz não o afecta negativamente, mais disponível está para o dizer. É por isso que é tão importante distinguir os duros na palavra dos duros na acção.
Habituei-me nas representações dos meus heróis de juventude a ver que os duros não eram os que propunham coisas difíceis, mas os que as faziam, davam o exemplo e exaltavam as multidões para juntos vencerem os obstáculos e ultrapassarem as dificuldades.
Sei que muitos dos sacrifícios que nos são pedidos são necessários e têm que ser feitos em nome dum futuro melhor. Pertenço com orgulho a um Governo que tudo fez e continua a fazer para enfrentar os desafios da crise com sensibilidade social num contexto adverso de forte maioria neoliberal na governação europeia e de consequente pressão dos mercados para a desregulação e para uma política de “salve-se quem puder”.
Mas não consigo deixar de me indignar quando oiço ou vejo gente com rendimentos cheios de zeros à direita a teorizar sobre a necessidade de reduzir rendimentos de famílias que dispõem de pouco mais de 100 euros por pessoa para sobreviver.
Podem ter razão em abstracto, mas a vida vive-se no concreto e no concreto ainda não vi nenhum dos “duros” assumir a vontade de reduzir o seu próprio rendimento, doar as maquias que cobram para espalhar o pessimismo e a desesperança às vítimas das suas profecias, arregaçar as mangas para lutar contra o fatalismo e propor uma atitude de querer para ver!
Uma atitude que não tinha Tomás nem teve Tomé, mas que é aquela que nos pode salvar no momento difícil que vivemos como povo e como País.
Comentários (1)