Contra o Preconceito
2017/03/26 12:58
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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As estapafúrdias, arrogantes e preconceituosas palavras
proferidas pelo Ministro das Finanças Holandês e (ainda) Presidente do
Eurogrupo, Jeroem Dijsselbloem, sobre a forma como os Países do Sul
supostamente gastam os seus recursos e depois pedem ajuda para pagar as contas,
mereceram o repúdio de todo o País.
Essas palavras alertaram-nos de forma impressiva para os
perigos dos preconceitos e para a necessidade de os eliminar se quisermos continuar
o percurso de paz e progresso encetado há sessenta anos pelos Pais fundadores
da União Europeia.
O holandês, pela posição institucional que ocupa, tinha
particulares obrigações de não dizer o que disse e como disse. O fosso em que
colocou o seu partido nas eleições holandesas mostra que continua a haver
esperança na robustez da democracia representativa para separar o trigo do joio.
Mas dito isto, e já tanto se disse e escreveu sobre este
caso, cada um de nós deve também refletir sobre outros preconceitos que muitas
vezes determinam opiniões, juízos de valor e decisões.
Permitam-me neste texto evidenciar dois preconceitos que
todos os meus leitores identificarão como marcantes na sociedade portuguesa e
que são intrinsecamente injustos.
Em primeiro lugar o preconceito contra os alentejanos (e
algarvios, que muitos qualificam de alentejanos sem travões) e a ideia
arreigada que sendo gente boa, são pouco dados ao trabalho e ao esforço. Quando
se olha para os desempenhos que os alentejanos vão paulatinamente concretizando
em todos os setores públicos e privados da vida nacional, rapidamente
compreendemos que a ideia da sua menor disponibilidade para fazer acontecer é
um preconceito. Infelizmente muitos tiveram que abandonar a sua terra para
mostrar o seu valor, mas a grande maioria, esteja onde estiver, honra o
Alentejo em pé de igualdade com as outras regiões do País.
Outro preconceito marcante da nossa sociedade é a ideia
de os representantes políticos são pouco empenhados, pouco informados e tendencialmente
corruptos. A designada “classe política”
em democracia representativa, é a escolha e o espelho da sociedade que
representa. Como em todas as áreas da sociedade, também na representação
política há gente excelente e gente que não honra os mandatos que lhe foram
atribuídos.
Há quem diga, e eu concordo, que os políticos deviam dar
o exemplo. Uns darão e outros não. Depende dos preconceitos e das eventuais
distorções de personalidade, mas tomar a “nuvem por Juno” é sempre má
conselheira das boas análises e das apreciações justas.
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