O Regresso da Moderação

 Este é um texto em contramão. Por todo o mundo e em Portugal também, nunca foi tão evidente que ser radical nas opiniões e nas ações se tornou na melhor forma de ter voz mediática amplificada. Se essa forma de tomar o palco é aquela que melhor contribui para resolver os problemas com que nos confrontamos, é já outra questão. 

 

Vejamos o exemplo do debate do Orçamento para 2023. Num contexto de grande complexidade, em plena economia de guerra e submetidos a uma galopada corrosiva da inflação, Governo e parceiros sociais (à exceção da exceção do costume - a CGTP), conseguiram elaborar e assinar um acordo de concertação social para um horizonte de quatro anos. O simples facto de ter sido possível assinar esse acordo é um fator de enorme credibilidade para o País, aumenta as possibilidades de mitigarmos os impactos da crise e parece indiciar um salutar regresso do bom senso e da moderação.

 

A moderação estrutural que ficou implícita num acordo socialmente alargado e de médio prazo, foi, no entanto, de imediato desafiada pela radicalização dos discursos de toda a oposição parlamentar, desde a extrema direita até à esquerda fossilizada. As apreciações dos diversos Partidos políticos com assento parlamentar, com a exceção natural do Partido em que o Governo se apoia, ignoraram o quadro económico, social e político em que o Orçamento foi preparado e terá que ser aplicado.

 

Falaram para os seus mercados ou nichos eleitorais, dizendo o que eles gostariam de ouvir, sem demonstração do exercício que orçamental alternativo capaz de sustentar as suas propostas. Uns repetiram ideias antigas e já derrotadas em eleições e outros arriscaram inovações com maior ou menor mérito, mas sem terem em conta os necessários equilíbrios finais entre a receita e a despesa, por muito flexível que essa contabilidade possa ser, tendo em conta o arco ideológico em presença.  

 

O mundo que nos entra em casa todos os dias é um mundo de incerteza e gritaria, em todas as línguas e afluindo de todos os azimutes.  Neste cenário de crescente insensatez e radicalização, o regresso dos moderados e da moderação que tornou possível a assinatura do acordo de concertação social de médio prazo em Portugalé uma excelente notícia que mantem à tona de água a esperança e nos convoca para uma atitude construtiva, sem abdicar de valores e convicções, mas também sem fazer tábua rasa da realidade em que vivemos. 

Estão de parabéns todos os que deram o seu contributo para que o regresso da moderação tivesse sido possível.

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