Religar
2016/01/23 16:09
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Sou por natureza alguém que procura ter
uma visão global, perceber as redes e as ligações materiais ou imateriais que
fazem acontecer e agir no micro espaço com que interajo para ajudar a que as
causas em que acredito sejam vencedoras e os projetos com que me comprometo se
concretizem.
Estou cada vez mais convencido da
importância deste trabalho de fazedores do “mundo a haver” que nos foi
reservado pelo Universo. Da especificidade maravilhosa da nossa missão no
cosmos, sejamos ou não crentes e seja qual for a nossa crença ou o motivo da
nossa descrença.
Na Religião como na Ciência o caminho é
ir tecendo, ligando, compreendendo cada vez mais e melhor o porquê das coisas,
percebendo que cada partícula é indispensável ao todo e que sem esse todo
nenhuma partícula faz sentido.
Esta consciência de pertença a uma mesma
corrente de evolução é fundamental para reduzir a crispação, a ganância, a
intolerância que vão grassando em golfadas cada vez mais fortes pelo planeta.
Temos que conseguir voltar a conversar e
a dialogar em todos os patamares da nossa existência. A conversar e a dialogar
sobre a sustentabilidade do planeta e sobre a forma de partilharmos em comum um
património que recebemos dos nossos antepassados e temos obrigação de
transmitir viável aos nossos vindouros.
A conversar e a dialogar sobre como as
desigualdades sociais que acabarão por quebrar a capacidade vida plena quer aos
muito pobres espoliados da sua dignidade, quer aos muito ricos despojados da
sua humanidade.
A
conversar e a dialogar sobre a interdisciplinaridade científica e a proximidade
cada vez maior do esboço coletivo de uma teoria de tudo. A conversar e a
dialogar sobre o que aproxima as religiões e a combater o seu uso como armas de
poder para ambições e interesses que nada têm de espiritual.
A ideia de religar é uma das muitas
possibilidades etimológicas para o conceito de Religião. Ao mesmo tempo é
também um dos mais fortes impulsionadores do desenvolvimento científico.
Tenhamos a coragem de a aplicar às nossas comunidades, às nossas escolhas e às
nossas prioridades. Unir em vez de dividir. Somar em vez de subtrair. Convergir
em vez de divergir. Compreender em vez de renegar.
Religar? Nem que seja a corrente da
esperança num futuro melhor, mais justo, mais livre, mais igual, mais fraterno,
mais digno e mais feliz.
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