Modo Propaganda
2015/04/12 11:01
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O designado programa de ajustamento, forma
eufemística de designar a estratégia concertada e voluntária de empobrecimento
da sociedade portuguesa que tem vindo a ser sistematicamente aplicada desde o
início de funções do Governo Passos/Portas, cumpriu uma das suas componentes
processuais. O Memorando com a Troika foi aplicado, não apenas na já dura
versão inicial, mas numa versão ainda mais abrasiva em resultado da escolha
ideológica e da vontade política da maioria.
O governo adotou a política de contração
e corte que estruturava o memorando com a Troika (a que chamou reformas
estruturais, embora as reformas necessárias não tenham passado um esboço
rascunhado em forma de guião) como o seu modelo para governar e prometeu mesmo
ser particularmente ousado e refinado na aplicação dessa políticas. Definiu o
empobrecimento como sua prioridade e cumpriu na execução. Os resultados estão á
vista.
Enquanto esta maioria for governo, não
obstante o fim deste ciclo processual do programa de ajustamento, as políticas
de austeridade que o inspiraram continuarão em vigor e em aprofundamento
permanente. A única coisa que mudará (já mudou aliás) será o discurso. Depois
mudarão as políticas, mas apenas se esta maioria for amplamente derrotada nas
urnas como merece.
É sobre o novo discurso da maioria que
vos quero falar um pouco mais neste texto. A mudança do discurso tem tido duas
componentes particularmente relevantes. A primeira é a antecipação de
resultados da aplicação do próximo ciclo de fundos estruturais. O governo em
fez de falar do Estado atual do País, descreve o “leite e mel” que correrá
daqui a uns anos. Este “golpe de mágica” discursiva visa fazer com que as
pessoas não pensem nas dificuldades que estão a viver e se projetem numa
imaginária retoma, associando a retoma a este governo. Ora este governo e
retoma são realidades incompatíveis. Só por encantamento se podem ligar.
O segundo “golpe de mágica” baseia-se na
ideia de que os portugueses fizeram grandes sacrifícios mas agora que o mau
tempo passou e está tudo bem. Infelizmente não é assim. Mesmo que fosse essa a
vontade do Governo a destruição do tecido económico e social foi tão profundo que
só uma terapia longa e assertiva o pode fazer recuperar. É não é certamente
quem fez a ferida que a poderá sarar.
O governo entrou em modo propaganda. Em
democracia isso é mais ou menos inevitável. Mas o que vai decidir as eleições
será a forma como os portugueses se sentirem e a confiança que tiverem nas
propostas de alternativa. A propaganda já teve dias melhores no terreno das
escolhas políticas.
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