Massa Crítica
2019/01/26 08:56
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Participei no passado dia 18 de janeiro numa interessante conferencia organizada pela Comissão de Coordenação da Região Alentejo em Évora sob o tema “Roteiros 2019 - desafiar o Futuro”. Para quem já anda nestes debates e reflexões há várias décadas, o evento referido foi particularmente inspirador e teve um registo de vontade de adaptação aos desafios dos novos tempos.
Na minha intervenção, baseado nas lições de muitos anos a desafiar e a fazer acontecer o futuro na região, partilhando sucessos e insucessos, mas acreditando sempre nas potencialidades da região para se desenvolver de forma sustentável e escapar ao destino de desertificação e desistência que muitos lhe prognosticaram, tentei dinamizar a reflexão fazendo propostas concretas para ultrapassar os maiores obstáculos que se enfrentamos.
A questão demográfica é sem dúvida a maior de todas as barreiras que se colocam no caminho do futuro da região. A baixa densidade no povoamento é estrutural, sendo ao mesmo tempo causa e efeito, ou seja, temos pouca gente e por isso mesmo temos dificuldades em fixar os que aqui nascem e crescem e em atrair novos habitantes para o nosso território. Não obstante o extraordinário progressoqualitativo que conseguimos nas últimas décadas, falta-nos massa crítica para viabilizar projetos, investimentos e iniciativas capazes de romper o bloqueio demográfico a que estamos a amarrados.
Por este motivo, o tema da massa crítica foi um dos que abordei na minhaintervenção. É fácil diagnosticar o problema e fazer teoria geral sobre ele. Para ganhar massa crítica temos que por em prática políticas capazes de criar emprego, fixando e atraindo pessoas cada vez mais qualificadas, gerando dinâmicas territoriais positivas.
Mas que políticas? Muitas das que ao longo dos anos têm sido postas em prática,tiverem impacto positivo e têm que ser continuadas. A realidade, contudo, mostra que não foram suficientes para quebrar a estagnação demográfica.
Alguma coisa tem que ser tentada de diferente, mesmo que para isso se tenham que alterar quadros legais e sair da zona de conforto político. Em particular,considero que temos que ter a coragem de aceitar que não é possível criar massa crítica ao mesmo tempo em todo o território e em todas as áreas e sectores. Por isso é preciso criar células de massa crítica que depois se possam propagar.
Não basta fixar na região o melhor médico numa ou em várias especialidades. É preciso fixar nalguns domínios mais correlacionados com a região a melhor equipa nacional. O mesmo se aplica às áreas científicas, sociais ou empresariais. Quando todos os outros caminhos falharam, a contaminação positiva é um caminho de esperança que temos que percorrer para tentar desatar o nó demográfico.
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