Nostalgia e Futuro (sobre as eleições antecipadas no Reino Unido)
2017/04/22 11:03
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Com a nostalgia do passado não se ganha o futuro. Esta ideia simples é
aplicável às múltiplas escolhas democráticas com grande impacto que vão ocorrer
nos próximos meses na União Europeia, e às quais agora se somou a decisão da
Primeira-Ministra Britânica Theresa May de convocar eleições antecipadas no Reino
Unido para dia 8 de junho deste ano.
A maioria dos estudos pós-eleitorais que foram feitos sobre a
tangencial decisão dos ingleses de deixarem a União Europeia, mostrou que nos
votos que deram legitimidade democrática
à saída, se combinaram várias nostalgias.
Em primeiro lugar contou a nostalgia dos tempos imperiais em que o peso
do Reino Unido no mundo era tal que conseguia impor parte das regras comerciais
e políticas.
A esta somou-se a nostalgia da
economia da era industrial em que o emprego tinha um perfil diferente e tendia
a praticar-se no contexto de carreiras mais ou menos lineares desenvolvidas ao
longo da vida.
Finalmente, contou também a nostalgia de uma sociedade fechada ( e
percecionada como mais segura), em que o acesso e o peso do que vinha de fora,
fossem pessoas, fossem bens, mercadorias ou serviços, era menos marcante no
quotidiano.
Os jovens e as camadas mais cosmopolitas da sociedade pronunciaram-se
maioritariamente contra a saída do Reino Unido da UE, uns porque são os maiores
ganhadores da integração económica e da globalização e os outros, os mais
novos, porque percebem que é nesse contexto que têm que conquistar o seu
espaço, lutar pela transformação das regras que conduzem ao aumento brutal das
desigualdades e desenhar um mundo à altura dos seus sonhos e ambições.
A decisão de Theresa May, face às dificuldades internas, sobretudo no
seio do seu próprio partido, reabriu implicitamente todo o processo do Brexit.
Era esta a grande oportunidade para travar um enorme combate contra a
nostalgia e a favor do futuro, usando o peso do Reino Unido, não para partir
sozinho para a aventura global, mas para reforçar a União Europeia e obriga-la
a dar respostas convincentes aos que temem pela sua perda de influência na
economia global, pela erosão das oportunidades de realização profissional e
pela segurança numa sociedade tolerante e aberta.
Infelizmente, olhando para a proposta política dos trabalhistas
ingleses, não obstante alguma capacidade de atração junto dos jovens, era
baseia-se mais no recuperar da nostalgia do passado, ainda que com uma marca ideológica
progressista, do que na vontade determinada de desenhar um projeto de futuro alternativo,
que poderia retomar a ideia da participação do Reino Unido num projeto europeu
revigorado para responder aos principais problemas, receios e medos que levaram
ao voto anterior.
A nostalgia do passado é inimiga da ação concreta para conseguirmos um
futuro melhor para todos. Parece-me que esta ideia simples vai marcar o
processo eleitoral no Reino Unido. Oxalá esteja enganado.
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