Senadores
2020/01/04 09:59
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A constituição portuguesa não prevê a existência de um Senado, embora a ideia de uma segunda câmara para reequilibrar as distorções de representação territorial mereça reflexão. Sobre esse tema tenho escrito noutras oportunidades, mas não é sobre esse perfil de senador que se debruça este texto.
No nosso País, o epíteto de “senador” é normalmente atribuído a políticos experientes, que a partir de determinada fase da sua vida se tornam mentores das gerações mais novas, assegurando uma transição informada e uma passagem de testemunho natural na prossecução do interesse comum.
Um senador que cumpre este papel e merece ser reconhecido como tal, abre caminho para quem é mais novo, fomenta a renovação, mas não reduz o seu empenho nem o seu compromisso com as ideias e os projetos que constituíram a sua matriz de intervençãoe fazem parte da sua identidade política. Ao mesmo tempo que reconhece que a experiência é um valor precioso, percebe que novos tempos e novos desafios exigem soluções novas, muitas delas precisando de ser testadas em exercício e sem preconceitos ou amarras nostálgicas.
A aceleração brutal na transição de contexto político que decorre da globalização da informação, das mensagens e das tendências, tende a gerar uma vertigem política e social que embacia a perspetiva do que é essencial, e do que vai ficando gravado na história e na memória, depois da passagem de cada onda.
Recordo com saudade e gratidão os senadores que me marcaram, felizmente muitos deles ainda vivos. Olho com admiração e muita esperança a geração que me antecede. Dela sairão a grande vaga de senadores desta década. Senadores que acredito, estarão à altura do desafio, como eu espero estar à altura da minha missão de transmissão responsável do testemunho quando a ela for chamado.
Ser senador vai ser progressivamente mais difícil e mais importante, não apenas no exercício de funções públicas como também nos desempenhos empresariais e de dinamização das instituições de solidariedade social e de mobilização da sociedade civil nas suas múltiplas dimensões.
Nalgumas sociedades os senadores são designados de “mais velhos” pelo facto da experiência se acumular com o passar dos anos. Mas não é só a experiência que faz o senador. É a atitude e o compromisso desprendidocom que a torna um património útil para a sociedade em que se insere e para aqueles que com ele partilham sonhos e projetos de futuro.
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