Interdependência e Pluralidade
2020/07/25 09:00
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A União Europeia deu mais um passo muito importante para sobreviver unida e útil para os seus cidadãos ao brutal impacto sanitário, económico e social provocado pelo COVID19. A aprovação pelo Conselho Europeu de um fundo de recuperação de 750 mil milhões de Euros que resultará da emissão de dívida conjunta pela Comissão Europeia é um passo de gigante nessa consolidação.
O potente fundo de recuperação é uma das peças da resposta europeia à crise, a que se juntam muitos outros instrumentos disponibilizados, designadamente os apoios do Banco Central Europeu ao financiamento dos Estados e das empresas e o Quadro deFinanciamento Plurianual (QFP) 2021/2027, que disponibilizaram e vão disponibilizar recursos igualmente muito elevados.
No caso do QFP, que tendo também um volume brutal, sofreu alguns ajustamentos de última hora que merecem leitura atenta, a aprovação final carece ainda de negociação com o Parlamento Europeu, que deverá ser rápida e eficaz para melhorar conteúdos e não atrasar a aplicação.
Mas não é sobre números, já profusamente divulgados, que quero refletir neste texto. É sobre o extraordinário significado político do método usado para constituir o fundo e de algumas lamentáveis atribulações verificadas na sua negociação.
A União Europeia, face ao recuo protecionista dos Estados Unidos, a tradição centralista Russa e algumas hesitações da China é hoje a grande potência multilateral na geopolítica global. Uma potência que assegurou 60 anos de paz através dos laços de interdependência entre os seus Membros.
No quadro da pandemia muitos apostaram forte no deslaçamento da União. A constituição solidária de um fundo de recuperação é a melhor resposta possível a essas forças. A interdependência entre os Estados membros da União saiu reforçada e essa é a melhor garantia da estabilidade da resposta acordada.
Interdependência significa também pluralidade. Pluralidade democrática e respeito pelas diferentes mundividências e matrizes culturais. No Conselho,alguns países fizeram depender o seu apoio às soluções económicas e financeiras de julgamentos morais inaceitáveis. Frugais e iliberais jogaram cartas perigosas e inaceitáveis.
Amarrada a União é preciso agora cuidar de combater os moralismos e os populismos que a ameaçaram e continuarão a ameaçar. O braço de ferro entre a democracia multilateral e o fechamento autocrático passa pela União Europeia. Não podemos fraquejar.
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