Intolerância
2009/05/10 09:20
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A celebração dos 35 anos do 25 de Abril propiciou um alargado debate sobre a saúde da democracia portuguesa. Foram muitas as opiniões trocadas e salutar alguma polémica de perspectivas. Em particular a situação de crise global em que vivemos tornou mais estimulante e aprofundado o debate sobre a dimensão económica e social que emergiu da revolução.
Foi um debate assertivo, mas em que ninguém pôs em causa a solidez e o valor da democracia e da liberdade conquistada. Em larga medida este consenso decorreu da percepção de que vivemos numa sociedade genericamente tolerante.
Os tristes incidentes que ocorreram na manifestação da CGTP do 1º de Maio vieram no entanto indiciar um preocupante e inesperado nível de intolerância, fortemente agravado pela insensibilidade na reacção dalguns dirigentes daquela central sindical e do Partido Comunista, que se assumiu mais uma vez como a sua tutela comportamental e doutrinária.
De facto, os incidentes do primeiro de Maio vieram alertar os mais distraídos para uma realidade evidente. A liberdade tem que ser permanentemente defendida e nunca está garantida. Tal como na fábula da rã e do escorpião, quem tem a intolerância no sangue não consegue disfarçá-la quando a ocasião se proporciona.
O combate contra a unicidade sindical e pela separação entre os sindicatos e os partidos foi um dos mais duros na formação da nossa democracia. A força da maioria impôs a pluralidade sindical e o carácter multipartidário das suas centrais. Entre os muitos milhares de sindicalizados na CGTP há muitos trabalhadores sem filiação partidária ou com filiações em partidos que não o PCP. O mesmo acontece na UGT onde coabitam trabalhadores de múltiplas filiações trabalhadores sem qualquer vínculo partidário.
Tudo isto é verdade e tudo isto é aceite no discurso oficial. A verdade no entanto é que a doutrina da supremacia do partido sobre o movimento sindical continua viva e recalcada no PCP e nos dirigentes da CGTP ligados a este partido e o verniz não resistiu perante a participação no desfile do dia do trabalhador de um ilustre ex-comunista, hoje cabeça de lista do PS nas eleições europeias.
A acção dos populares que insultaram e vilipendiaram Vital Moreira é condenável. No entanto, o mais significativo do que sucedeu foram as hesitações do PCP e de Carvalho da Silva em condenar o acto de intolerância. Num primeiro momento quase assumiram que o direito à indignação de alguns manifestantes poderia ser traduzido em actos violentos. Mais tarde, perante a estupefacção geral chegaram as desculpas contidas e muito esforçadas.
Há um direito democrático à indignação que se deve sobrepor a todos os outros. Um direito que é também um dever de salvaguarda da democracia. Refiro-me ao direito de indignação contra a intolerância. Nesta crónica exerço o meu direito e instigo todos a que tolerantemente o façam também.
Foi um debate assertivo, mas em que ninguém pôs em causa a solidez e o valor da democracia e da liberdade conquistada. Em larga medida este consenso decorreu da percepção de que vivemos numa sociedade genericamente tolerante.
Os tristes incidentes que ocorreram na manifestação da CGTP do 1º de Maio vieram no entanto indiciar um preocupante e inesperado nível de intolerância, fortemente agravado pela insensibilidade na reacção dalguns dirigentes daquela central sindical e do Partido Comunista, que se assumiu mais uma vez como a sua tutela comportamental e doutrinária.
De facto, os incidentes do primeiro de Maio vieram alertar os mais distraídos para uma realidade evidente. A liberdade tem que ser permanentemente defendida e nunca está garantida. Tal como na fábula da rã e do escorpião, quem tem a intolerância no sangue não consegue disfarçá-la quando a ocasião se proporciona.
O combate contra a unicidade sindical e pela separação entre os sindicatos e os partidos foi um dos mais duros na formação da nossa democracia. A força da maioria impôs a pluralidade sindical e o carácter multipartidário das suas centrais. Entre os muitos milhares de sindicalizados na CGTP há muitos trabalhadores sem filiação partidária ou com filiações em partidos que não o PCP. O mesmo acontece na UGT onde coabitam trabalhadores de múltiplas filiações trabalhadores sem qualquer vínculo partidário.
Tudo isto é verdade e tudo isto é aceite no discurso oficial. A verdade no entanto é que a doutrina da supremacia do partido sobre o movimento sindical continua viva e recalcada no PCP e nos dirigentes da CGTP ligados a este partido e o verniz não resistiu perante a participação no desfile do dia do trabalhador de um ilustre ex-comunista, hoje cabeça de lista do PS nas eleições europeias.
A acção dos populares que insultaram e vilipendiaram Vital Moreira é condenável. No entanto, o mais significativo do que sucedeu foram as hesitações do PCP e de Carvalho da Silva em condenar o acto de intolerância. Num primeiro momento quase assumiram que o direito à indignação de alguns manifestantes poderia ser traduzido em actos violentos. Mais tarde, perante a estupefacção geral chegaram as desculpas contidas e muito esforçadas.
Há um direito democrático à indignação que se deve sobrepor a todos os outros. Um direito que é também um dever de salvaguarda da democracia. Refiro-me ao direito de indignação contra a intolerância. Nesta crónica exerço o meu direito e instigo todos a que tolerantemente o façam também.
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