A Onda
A pandemia ainda não terminou, mas o intenso dano e cansaço psicológico que provocou nos últimos dois anos, tornou-a presa fácil da onda de comunicação provocada pelo retorno da guerra à Europa sob a forma de invasão de um país soberano por uma potência imperialista e desapareceu dos radares da comunicação social.
Não confundo factos com a comunicação sobre eles. Quer a pandemia, quer agora a guerra são fontes inesgotáveis de noticias, mas sem menosprezar a importância fundamental do direito à informação, nunca nos podemos esquecer que no seu cerneestão factos e esses factos, nos casos em análise, são portadores de enorme sofrimento, medo e ansiedade, atingindo muitos milhões de pessoas.
Tendo isto presente, sublinho neste texto a onda de solidariedade com povo da Ucrânia que cresceu um pouco por todo o mundo e também em Portugal, no Alentejo e nas nossas terras e comunidades. Aquilo que está a acontecer, relatado muitas vezes em direto, geraria sempre uma enorme e natural onda de solidariedade, mas ela é mais significativa por ter surgido num contexto de anemia de sentido com que o isolamento forçado pelo COVID contaminou muitas das nossas sociedades.
Anseio pela paz, mas ninguém está em condições de assegurar quando ela voltará, nem que grau de destruição o conflito iniciado ainda vai provocar. O mundo democráticocoligou pela liberdade e pelo direito dos povos à autodeterminação. A mobilização da sociedade civil tem vindo também a crescer exponencialmente, contribuindo para que conter o mais possível o desastre humanitário, acolher os que dele fogem e manter viva a esperança.
A guerra na Ucrânia é agora o foco de toda a atenção. Mas um pouco por todo o mundo, outros conflitos, guerras civis, sublevações e insurgências martirizam dia após dia milhões de seres humanos que também precisam do olhar atento e da ação das instituições internacionais e da compaixão dos povos e das pessoas que puderem ajudar.
No plano geopolítico, sem cegueira, precisamos de foco máximo na resolução de um conflito que pode escalar até à aniquilação da humanidade. Precisamos também de continuar a dar força à onda de solidariedade que acordou tanta gente da letargia gerada pela pandemia e que o povo ucraniano e todos os que sofrem os danos colaterais da guerra necessitam e merecem. Mas essa onda tem também de se projetar para quem sofre e precisa, seja cá dentro ou lá fora, em que território ou em que continente for e tornar-se uma onda solidária global, que ajude a humanidade e rompa o nevoeiro psicológico que a tomou