A "Carta para a Russia"
2010/02/13 00:15
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A ideia desta crónica nasceu em mais uma espera de aeroporto, quando de repente no meio dum tempo de vazio surgiu entre a equipa que me acompanhava a dúvida sobre uma carta de mera formalidade mas que deveria dar seguimento a uma negociação em curso. Já teria seguido a "carta para a Rússia"? A verdade é que sobre o tema já muitas palavras directas, mensagens e telefonemas tinham sido trocados. Tudo estava combinado, mas faltava a carta, ou pelo menos podia faltar. E sem a carta …!
Na última década a forma como comunicamos mudou de forma assombrosa. Os telefonemas e as mensagens por telefone ou por computador são a única forma de sincronizar quem decide ou quem executa com as dinâmicas de mudança e de gerar interacções criativas que levam a que as coisas aconteçam. E se isto é assim na esfera profissional, mais é ainda na esfera pessoal. Vivemos um tempo de conexões em que a oportunidade tende a transcender e a sobrepor tudo o resto. Continua a ser importante levar a “Carta a Garcia” embora sejam cada vez mais virtuais as cartas que se jogam e enviam e seja também cada vez mais difícil saber quem é Garcia.
Esta fluidez de processos transforma todos os modelos de avaliação e verificação. Os arquivos da história do presente e do futuro são miríades de ocorrências que se poderão correlacionar das mais diversas e múltiplas formas. A história e a forma como ela se foi consolidando nunca foi linear, mas agora mais do que múltipla tornou-se mutável, despegada da lógica ou da evidência, fruto de sucessões de casos e de acasos, de bolas e de carambolas, de sortes e de sortilégios.
A "carta para a Rússia" era uma formalidade não necessáriamente dirigida aquele País e uso-a neste texto como uma mera alegoria. Nas relações internacionais, nas relações comerciais ou nas relações pessoais as cartas que hoje se escrevem são cada vez mais miolos de pão deixados no caminho, para um dia se poder regressar ao passado, se entretanto como no conto infantil os pássaros não se saciarem com eles.
No fundo são miolos de pão deixados a pensar que o trigo ainda é trigo e que os pássaros ainda se alimentam do fruto das sementes e que vão continuar a pejar os caminhos, mesmo quando sabemos que pouco valem face ao banquete da comunicação instantânea.
Terminado em Bruxelas, enquanto se escrevem as cartas do futuro da economia europeia, enviarei este texto para o DS por “mail” como sempre o faço. Claro que o podia mandar por carta, mas não sabendo se a carta já seguiu para a Rússia, temo que alguém se lembre, por vontade ou descuido, de desencaminhar esta para a terra dos “Czars”, e que indo ela parar ao Pravda, sendo em português, ficasse para sempre perdida no arquivo morto.
Seria uma carta que não encontraria Garcia e que deixaria os meus leitores à espera da crónica sem saber que foi á espera dum avião que surgiu a ideia de a escrever. Uma carta algo surpreendente acredito, escrita para fazer pensar … ou talvez não, que isto das cartas está fora de moda. Ainda se fosse uma escuta!
Na última década a forma como comunicamos mudou de forma assombrosa. Os telefonemas e as mensagens por telefone ou por computador são a única forma de sincronizar quem decide ou quem executa com as dinâmicas de mudança e de gerar interacções criativas que levam a que as coisas aconteçam. E se isto é assim na esfera profissional, mais é ainda na esfera pessoal. Vivemos um tempo de conexões em que a oportunidade tende a transcender e a sobrepor tudo o resto. Continua a ser importante levar a “Carta a Garcia” embora sejam cada vez mais virtuais as cartas que se jogam e enviam e seja também cada vez mais difícil saber quem é Garcia.
Esta fluidez de processos transforma todos os modelos de avaliação e verificação. Os arquivos da história do presente e do futuro são miríades de ocorrências que se poderão correlacionar das mais diversas e múltiplas formas. A história e a forma como ela se foi consolidando nunca foi linear, mas agora mais do que múltipla tornou-se mutável, despegada da lógica ou da evidência, fruto de sucessões de casos e de acasos, de bolas e de carambolas, de sortes e de sortilégios.
A "carta para a Rússia" era uma formalidade não necessáriamente dirigida aquele País e uso-a neste texto como uma mera alegoria. Nas relações internacionais, nas relações comerciais ou nas relações pessoais as cartas que hoje se escrevem são cada vez mais miolos de pão deixados no caminho, para um dia se poder regressar ao passado, se entretanto como no conto infantil os pássaros não se saciarem com eles.
No fundo são miolos de pão deixados a pensar que o trigo ainda é trigo e que os pássaros ainda se alimentam do fruto das sementes e que vão continuar a pejar os caminhos, mesmo quando sabemos que pouco valem face ao banquete da comunicação instantânea.
Terminado em Bruxelas, enquanto se escrevem as cartas do futuro da economia europeia, enviarei este texto para o DS por “mail” como sempre o faço. Claro que o podia mandar por carta, mas não sabendo se a carta já seguiu para a Rússia, temo que alguém se lembre, por vontade ou descuido, de desencaminhar esta para a terra dos “Czars”, e que indo ela parar ao Pravda, sendo em português, ficasse para sempre perdida no arquivo morto.
Seria uma carta que não encontraria Garcia e que deixaria os meus leitores à espera da crónica sem saber que foi á espera dum avião que surgiu a ideia de a escrever. Uma carta algo surpreendente acredito, escrita para fazer pensar … ou talvez não, que isto das cartas está fora de moda. Ainda se fosse uma escuta!
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