Ao Fim e ao Cabo
Se juntasse os textos que tenho escrito e publicado nos últimos tempos e lhe aplicasse uma ferramenta de análise, estou certo que entre palavras como pandemia, recuperação, resiliência e algumas outras que chegaram de supetão ao topo da comunicação, estaria também a palavra transição, aplicada à energia, à tecnologia, à política, à sociedade e a tantas outras coisas.
O mundo sempre esteve em transição. O que o conhecimento e a tecnologia mudaramfoi a velocidade com que isso acontece. Uma velocidade que gera processos cada vez mais complexos e dinâmicas sobrepostas, que têm que ser geridas com sensibilidade.
Um exemplo muito impressivo da transição de modelo económico com impactos múltiplos e de diferente índole é o que está a ocorrer em Sines e nos seus territóriosenvolventes, com ramificações em todo o Alentejo e em todo o País.
O fecho da central termoelétrica a carvão foi antecipado, garantida que foi a segurança do sistema de abastecimento através da combinação de outras fontes de produção, com ganhos ambientais e de redução de custos de importação significativos. Ao mesmo tempo cerca de 500 postos de trabalho diretos e indiretos terão que ser recuperados com investimentos alternativos.
Vários investimentos em centrais solares e na produção industrial de Hidrogénio Verde prometem compensar também no plano económico e social o impacto agora sofrido, recorrendo também ao Mecanismo Europeu para a Transição Justa, criado exatamente para fazer face a situações como a descrita.
Ao mesmo tempo que o Porto continua a crescer e a atrair também novos investimentos,e a ligação ferroviária de alta velocidade progride, Sines verá este ano ser consumada a amarração de dois cabos submarinos de fibra ótica, que o tornará numa “nuvem” estratégica fundamental para a transição digital em curso, permitindo transformar a zona num laboratório vivo de digitalização verde.
O “Ellalink” que será a primeira ligação direta e de alta velocidade entre centros de dados da América Latina e da Europa e o Equiano que ligará Sines à Cidade do Cabo na África do Sul, percorrendo agora a velocidades estonteantes a velha rota das caravelas, farão de Sines, ainda mais, um entreposto global para o novo “comércio” do século XXI.
Mas ao fim e ao cabo, o que vai contar são as pessoas, a sua requalificação, o balanço de oportunidades, a riqueza e a qualidade de vida gerada no território e a sustentabilidade do novo ecossistema económico e social. Não há transição sem dor e não deve haver transição sem ser justa. Que assim seja.